7:31Dona Dilma vem aí

por Ivan Schmidt

 

Copa do Mundo em junho-julho e eleições gerais em outubro (deputados estaduais, federais, senadores, governadores e presidente da República), serão os dois eventos predominantes no imediato cenário tupiniquim. Não há nenhuma relação entre uma coisa e outra, pelo menos não deveria haver, mas já despontam os oráculos de sempre a alimentar conjeturas quanto a prováveis protestos antes e durante o transcorrer do torneio, sendo então inevitável que os mesmos produzam algum desgaste na imagem da presidente Dilma Rousseff, candidata ao segundo mandato.

Aliás, tiveram ampla repercussão na imprensa as sintomáticas declarações do presidente da Fifa, Joseph Blatter, no início da semana, quanto ao atraso brasileiro nos preparativos para o maior evento futebolístico do planeta: “É o país mais atrasado desde que estou na Fifa. E foi o único que teve tanto tempo (sete anos) para se preparar”, disse o cartola ao jornal suíço “24 Heures”.

A seis meses do início da Copa, a metade dos estádios ainda não foi concluída, assim como muitas obras públicas destinadas a facilitar a mobilidade urbana e acesso aos locais de jogos e, principalmente nos aeroportos. Uma coisa, porém, foi decidida com invejável rapidez: as tarifas das companhias aéreas para os trajetos entre os locais dos jogos e as diárias de hotel nas respectivas praças, cuja exorbitância incontida chamou a atenção das autoridades.

Na questão aérea, a ministra Gleisi Hoffmann, em entrevista recente, chegou a dizer que o governo pensa em abrir o mercado para empresas estrangeiras, caso as nacionais não resolvam conter o ímpeto explorador, embora não tenha tido o mesmo rigor com a hotelaria. O representante brasileiro da organização internacional de empresas aéreas (Iata), no dia seguinte, pulverizou a sugestão da ministra ao lembrar, simplesmente, que operação do gênero levaria meses para ser viabilizada.

Na verdade, o governo tem alternativas geniais para contornar o descompasso das obras de adaptação de aeroportos, como o de Cuiabá, para o qual o plano B seria a armação de um terminal coberto de lona!

Blatter afirmou também que a Fifa não descarta a hipótese da ocorrência de protestos nas ruas durante a Copa do Mundo. Espertamente o poderoso chefão do futebol mundial (favor não confundir com outra organização assaz benemérita), fez uma média ao enfatizar que as manifestações não serão diretamente contra o futebol, que “no país deles é uma religião”. A franqueza com que Blatter falou sobre o assunto é, no mínimo, inquietante: “Nós sabemos: teremos novas manifestações e protestos”, lembrando que “os últimos, na Copa das Confederações, nasceram nas redes sociais. Não tinham objetivo, reivindicações reais. Mas, durante a Copa, eles serão mais concretos, mais estruturados. Mas o futebol estará protegido”.

Esse lance é muito estranho e merece resposta a altura do governo: ele também já levantou informações sobre a organização e arregimentação das massas pelas redes sociais? Já se informou que as primeiras manifestações contrárias à Copa estão marcadas para o próximo dia 25, mas na exegese de Blatter os eventuais prejuízos já estão antecipadamente espetados na conta do governo. O raciocínio não é desprezível, embora a opinião generalizada seja que tanto a entidade promotora quanto os patrocinadores que injetaram milhões de dólares no evento devam pagar seu tributo.

Os brasileiros estão suficientemente alertados para não mais aceitar aquela baboseira da “pátria em chuteiras” ou outros bordões inventados por narradores espaventados tipo Galvão Bueno para imbecilizar a patuléia. A maior prova foi dada no meio do ano passado quando manifestante anônimo ergueu um cartaz manuscrito: “Queremos escolas e hospitais padrão Fifa”.

Então não venha o senhor Blatter achar que os brasileiros são todos pascácios juramentados. Aliás, o melhor que poderia fazer é levar um papo com o Michel Platini, presidente da Uefa, que declarou recentemente a intenção de não dar as caras no Brasil caso tenha que andar cercado por seguranças.

No retorno ao Planalto, Dilma tuitou em resposta às declarações do suíço, que não só vestiu a carapuça, mas procurou disfarçar o teor das críticas da véspera dando o dito pelo não dito, em flagrante demonstração de pusilanimidade. Não seria apropriado  que o governo acionasse os serviços de inteligência (poderiam chamar o Snowden) para saber de quem a Fifa recebeu informações tão seguras sobre a ocorrência de protestos públicos durante a Copa?

É claro que se a seleção brasileira for campeã do mundo, apesar do antagonismo de parte da sociedade nas ruas, a campanha de Dilma seja beneficiada porquanto o governo é sempre hábil em aproveitar as oportunidades de se promover à custa de feitos alheios.  Certamente teremos a repetição daquelas cenas na rampa do Palácio do Planalto quem sabe com as cambalhotas do Vampeta, dessa vez protagonizadas por Felipão e Murtosa, já que o presidente da CBF, José Maria Marin, não tem mais idade para arroubos semelhantes.

Contudo, a maior dificuldade da presidente (com uma malfadada desclassificação do Brasil será pior) é explicar os percalços da política econômica de seu governo, que também não avançou no campo político apesar de contar com o apoio de uma pilha de legendas jamais vista desde a redemocratização. Está comprovado, então, que a única razão lógica para se compreender a largueza do latifúndio dilmista é, sem a menor consideração com os custos, a ampliação do horário da propaganda eleitoral gratuita.

Dilma acabará dispondo para sua campanha no rádio e na TV da metade do horário destinado aos partidos, estratégia corroborada pelo indicativo da breve nomeação de novo ministro para a Esplanada, indicado pelo Pros, que tudo indica deverá ser o ex-governador cearense Ciro Gomes, que está para o restante do governo como um tição aceso rondando perigosamente o barril de pólvora.

A presidente terá pela frente uma boa safra de problemas. A primeira pesquisa Focus de 2014, divulgada semanalmente pelo Banco Central, com base em projeções realizadas por uma centena de instituições do mercado financeiro, mostra um panorama pessimista para a economia no atual exercício, com a previsão inflacionária próxima a 6%. A média do PIB do ano passado caiu de 2,3% para 2,28%, e para o ano em curso a situação é desalentadora, sendo que as primeiras estimativas já declinaram de 2% para 1,95%. Não se espera grande coisa na aceleração do ritmo da produção industrial e, por conseguinte, no movimento de vendas do comércio.

Um dado perturbador da equação que a equipe econômica terá de resolver é a timidez do índice de investimentos, tendo em vista a freada nos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a cornucópia da iniciativa privada. A própria característica de ano eleitoral também deverá restringir a programação de obras públicas, dadas as limitações impostas pela legislação.

Aparentemente, nenhum dos obstáculos citados afeta a popularidade da presidente, que seria eleita no primeiro turno caso a eleição fosse realizada nesse domingo. No plano geral o governo não conseguiu concluir nenhuma obra de vulto, a não ser o relativo avanço do Minha Casa, Minha Vida, de si mesmo um projeto essencialmente eleitoreiro, assim como a distribuição de moto-niveladoras aos prefeitos municipais.

É certo que a taxa de desemprego nunca esteve tão baixa, embora a média salarial acuse acintoso índice de precariedade, fazendo aflorar a realidade cruel da inadimplência que atinge milhões de famílias país afora. O brasileiro médio que conseguiu emprego, ato contínuo saiu gastando feito louco e não conseguiu pagar as prestações.

Enquanto isso a oposição não foi capaz de organizar um arsenal apropriado para entrar definitivamente em combate contra as deficiências oficiais. Dia desses o sociólogo Francisco Oliveira voltou a dizer que “essa é a oposição que qualquer governo gostaria de ter” e, mesmo divergindo da maioria das atitudes tomadas por Luiz Inácio Lula da Silva, com quem rompeu política e ideologicamente, incluindo a sucessora Dilma Rousseff, enfatizou que a presidente será reeleita e terá seu voto.

Quer dizer, o experimentado Chico reproduz de forma intelectualizada a tábula rasa do sentimento de grande parte da população quanto à intenção de voto no mês de outubro: o governo é ruim, mas deixa estar, porque o sucessor poderá ser ainda pior. Se fosse numa peça teatral o pano fecharia lentamente…

 

 

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2 ideias sobre “Dona Dilma vem aí

  1. Emerson Paranhos

    Não tenho motivo algum para defender a FIFA, nem o Sr Blater, mas quem os procurou, investiu em loob e festejou chorando demagogicamente quando sua solicitação foi a vencedora foram o Sr Lulla, prefeitos e governadores acompanhados de seus sabujos, ele o presidente ainda acompanhado de sua “teuda e manteúda” as custas de nós contribuintes. Eles, o Lulla, o PT, os politicos ganharam com lagrimas e demagogia muitos votos. Ninguém obrigou o Brasil a aceitar o caderno de exigências da FIFA. Agora fica esta choradeira dos politicos e dos colunistas, sendo que estes os colunistas não citam o Lulla e o PT. Os bandidos por conveniência é a FIFA e os Blatter da vida (é fácil de bater e o PT tem grade parte da mídia o defendendo).Então tenho que concluir os brasileiros são todos pascácios juramentados.

  2. antonio carlos

    Agora falar mal da companheira já reeleita presidanta parece que virou moda. Mas de nada vão adiantar nem o trololó do Blatter nem as ameaças do Platini, o leite já foi derramado, e não adianta mais chorar. Provamos mais uma vez que trocamos o planejamento pela improvisação, isto é cultural entre nós. Há muito tempo passou a hora de passarmos a borracha na nossa História e começarmos de novo. Ao contrário do que pensam os vingativos da Comissão da Verdade que, enxergam em todo mundo que não foi esquerdista, socialista ou comunista como sendo um torturador, insistimos em continuar procurando culpados pelos nossos próprios erros. Porque até hoje não se fizeram as Reforma Tributária, Eleitoral, entre tantas outras? Porque adoramos ir empurrando tudo com a barriga.

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