11:54Precisamos aprender a guardar as pessoas

por Hudson José*

 

 

Precisamos aprender a guardar pessoas.
Guardá-las sem maquiagem.
Guardá-las sem as brigas da rotina. Sem as invejas que o consumo gera.
Sem as palavras rudes que, às vezes, os sentimentos mais agudos forjam no nosso pensamento e que pronunciamos quase sem querer.
Guardá-las a pé ou, no máximo, de bicicleta.
Sem direção hidráulica, nem ar-condicionado, air-bag ou roda de liga leve.
Guardá-las de pijama. Na cozinha bagunçada e não na festa de final de ano com a roupa do shopping e a taça de champagne na mão.
Guardá-las sozinhas. Individualmente. Cada uma dentro de um micro-coração que carregamos e que pode ser acionado em caso de emergência.
Guardar sem misturar. Cada textura diferente em um lugar diferente.
Se é meio azedo, no coraçãozinho temperado.
Se é doce, no coraçãozinho caixinha de bombom.
Mas também não precisa guardar com rótulo, nem etiqueta.
Basta saber guardar como são de verdade e com o melhor que existe para ser guardado: sorrisos, cheiros, beijos, abraços, carinhos.
Quando se guarda, não se perde.
Precisamos guardar quem amamos para olhar sempre.
Mas é um olhar diferente, que enxerga tudo só dando uma espiadinha n’Alma. Guardar iluminando para ser iluminado porque daí ninguém vai embora. Nem a gente.

 

*Texto escrito para Ruth Bolognese quando da partida de Pedro Franco Cruz, em 20 de janeiro de 2009

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3 ideias sobre “Precisamos aprender a guardar as pessoas

  1. Raul Urban

    UM “ESPANHOL” SEM MAQUIAGEM, MAS ÍCONE DO APRENDIZADO
    Raul Guilherme Urban (*)

    Ruth, li o texto, viajei no tempo, e retornei ao fatídico janeiro de 2009 – lá se vão quatro anos que o nosso “espanhol” se foi. Quem não guarda dele gratas lembranças? Quem com ele conviveu na redação, mesmo quem depois viu Franco na Procuradoria… ah, que saudades de um grande amigo que conheci, ainda nos tempos duros em que dividia o apartamento simples, já velho, do Edifício Tijucas, que dividia com Jaime Lechinski. O que mais guardo de Franco é auele jeito próprio de se fazer presente na ainda velha redação de “O Estado”, na Barão do Rio Branco, 556, quando, naquelas longas mesas cobertas de Olivgetti Lexikon 80, ficava defronte a ele, e ele tendo ao lado o Manfredini.
    Perdemos as contas de quantas vezes, repórteres que éramos naqueles anos 1970, viajávamos às mais esdrúxulas pautas – tantas delas criadas de improviso -, a bordo daquelas Rural Willys do “Estadinho”?
    Quantas e quantas madrugadas nos fez companhia, quando ainda estavam aí o Karam e uns tantos outros que nos deixaram saudades, estávamos (inclusive com o Solda) em torno de uma daquelas pequenas mesas cobertas de granito preto do Bar Triângulo, onde a viúva do já finado Rudi Blum esbravejava quando pedíamos a última rodada de brejas antes da fatídica meia-noite, horário em que o Teixeira – garçon até hoje ativo no bar ao lado, o Mignon – se encarregava de abaixar a porta de aço, impedindo a entrada ate mesmo de um mosquito!!
    O texto acima tem, para mim, não o significado de ter sido feito apenas no 20 de janeiro do ano da graça de 2009. Ele é, na íntegra, um inventário, um descrever solene,e também mágico, de um alguém que soube, enquanto presente, mostrar-se por completo enquanto um ser que respirava a vida, a aventura, o desejo, a felicidade, a boemia, o jornalismo, mais tarde a Justiça, de forma única – fazendo-se respeitar como algo igualmente mágico.
    Saímos por aí, pelos caminhos da vida, cada qual tomando seu rumo. Quis o destino que perdêssemos um ente que foi, sim, para muitos, um Norte, enquanto amigo; enquanto “justiceiro”; enquanto, tomado pelos rujmos da própria vida, soube singrar entre nós de forma iluminada. Que o guardemos assim:sem maquiagem, como disseste. Mas, talvez, embalsamado pelo Tempo, para que fçamos dele um Ícone do Aprendizado.
    Um grande abraço, até um próximo encontro – do Urban, com saudade!

    (*) Raul Guilherme Urban é jornalista.

  2. Raul Urban

    Oh, Hudson, onde andas? Quando, há pouco, escrevi à Ruth – e me desculpa por isso -, omiti uma alusão a ti. Pois é, Hudson José soube, no seu devido tempo, também conhecer o Franco multifacetdo, mesmo que então jornalista ainda noviço – fim dos anos 1980, quando tive o prazer imenso de vê-lo meu aluno do curso de Jornalismo, na Univesidade Estadual de Ponta Grossa.
    Como já diziam o sempre lembrado Manoel Carlos Karam, como o tam bém sudoso Tim Maia, ambos parafraseando ninguém mais que Fernando Pessoa: “A vida vem em ondas, como o mar”.

    A propósito: como Franco viveu um trecho de sua vida trabalhando na sucursal de “Veja”, aqui em Curitiba, agradável seria, ainda hoje, encontrar aqui um comentário de outro amigo comum, também com travessia longa então na Abril – Hélio Teixeira. Hudson, um abraço, e dá notícias!

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