6:40Os torcedores e os aproveitadores

por Sergio Brandão

 

Torcedores de futebol são movidos por uma força ainda inexplicável. Deveriam ser divididos em categorias. Os que amam o futebol, os que amam seu clube, os que amam incondicionalmente o clube e por isso são capazes de loucuras. Também os que nem sabem direito o que é futebol, mas estão lá porque é outra categoria que se aproveita do amor dos outros e o transforma em presa fácil para extravasar seus desatinos, sua doença e selvageria.
Não tem “presa” melhor que um pai acuado, num canto de arquibancada, tentando proteger sua cria. Os dois sempre são pegos de surpresa. No máximo também sempre estão armados, mas com um picolé de chocolate e o garoto com um pacote de pipocas.
A inocente cena se repete todos os domingos, em muitos estádios pelo mundo. Os que ficam em casa oram por um final feliz. Os dois inocentes, pai e filho, nem imaginam o perigo que correm. Só o coração de mãe que sabe destas coisas é capaz de antever a tragédia.
O cheiro da tragédia está no ar. Ela pressente porque só o coração de mãe percebe estas coisas. Ela não sabe direito, mas é que dias antes, os doentes, selvagens e perigosos descontentes com o mundo, e que de futebol nada sabem, armam pelas redes sociais a “arapuca” que vai pegar a pobre dupla e quem mais estiver pela frente. Sem que ninguém perceba, entram no estádio armados de porretes e tudo quanto é tipo de arma que podem carregar.
Se misturam entre a maioria – por enquanto- bem intencionada e com sinais vão se comunicando. O jogo já está dois a zero, e eles nem sabem disso. O que acontece no gramado é o que menos importa. No grito do terceiro gol, começam a catarse. Seguem com a gritaria e já ensaiam alguns movimentos combinados e rompem o que deveria ser a linha divisória entre um lado e outro. Sem dificuldades passam. Neste dia especialmente, as coisas estão mais fáceis. Não há proteção. O policiamento não veio. Ou melhor veio, mas foi impedido de trabalhar porque alguém disse que em evento desta natureza, a segurança deve ser particular.
De tempos em tempos eles ressurgem, uma, duas, três vezes ao ano e a cena se repete. Esperam que as confusões anteriores caiam no esquecimento, e parecem usar a entressafra para planejar a próxima ação.
Desta vez pai e filho saíram ilesos, mas já foram vítimas muitas outras vezes. E serão mais ainda porque já deram o veredito da condenação da recente ação. Como se andasse sozinha, como se tivesse vontade própria, a  instituição “FANÁTICOS “ é punida, mas seus integrantes, não. O nome que os doentes usam, está proibido de se manifestar, em qualquer circunstância. Nem suas cores, seu símbolo, nem seu grito de guerra podem ser usados durante 6 meses. Só que seus mentores, organizadores, diretores e associados, já estão liberados para voltar aos estádios, mesmo não sabendo nada de futebol, sem entender porque, naquele espaço de guerra, pais e famílias ainda insistem em se acomodar e se divertir de outra forma, que não seja a forma deles, se batendo, se machucando, se matando.
Mesmo não gostando de futebol, eles vão voltar.
Vão fazer como antes. Esperar as imagens recentes caírem no esquecimento. Quando pai e filho estiveram novamente na arquibancada, desavisados, a mãe em casa orando, serão novamente vítimas da selvageria. E mais uma vez o espaço será deles porque querem e estão deixando que transformem a arquibancada de estádio de futebol em praça de guerra, e todos fazem de conta que nada está acontecendo.

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