8:46No país do Fuleco

Certa vez perguntaram para Armando Nogueira porque ele escrevia tanto sobre o futebol do passado. Ele, do alto da sua sabedoria adquirida em Xapuri, onde nasceu no Acre, foi outra vez genial: “Porque o passado eu posso editar – e as coisas boas é que ficam”. Ele viveu para contar, como escreveu o mestre Gabriel Garcia Marques. O que, em meados deste século contarão nossos filhos e netos sobre os tempos atuais? Vida que segue, não é mesmo João Saldanha?, outro dos bons que recebeu na semana passada, de braços abertos e aquele sorriso que ele só dava para quem merecia, Nilton Santos e Pedro Rocha. Na era da comunicação instantânea sorteou-se os grupos da Copa do Mundo no resort bancado por Antonio Carlos Magalhães (olha o Brasil aí, gente!), e o que se falou mesmo foi do vestido dourado colado no corpo da apresentadora Fernanda Lima, porque celebridade de outro tipo, não aquela que consagrou o rei Pelé, que estava lá, ou Zidane, nosso carrasco sempre perdoado porque joga muito e deveria ter nascido ali na esquina, jamais na França. A Fifa se instalou aqui como uma invasora alimentada a bilhões, e a ela tudo é permitido, inclusive que um malaco meta o pé na bunda do país e fique por isso mesmo. O presidente de tal entidade, que já foi comandada durante anos por um brasileiro e se descobriu que ele lá fez como os políticos fazem aqui, ou seja, se melou nas facilidades da dinheirama que aumenta cada vez mais, bem, o cartola da vez, Joseph Blatter, anda na corda bamba e volta e meia é alvejado por denúncias. Mas o bunker da entidade, não por acaso em Genebra, Suíssa, é um bom esconderijo de onde dita as ordens para os países que, oh, graça divina!, são escolhidos para sediar o torneio. Sim, a bola, na sua essência, parece ser um adereço pequeno na máquina de moer carne e alimentar superfaturamentos. Apresentaram a Brazuca nesta semana. Bonita. Mas na hora do vamovê, se for igual à inesquecível Jabulani, vai resumir o que é tudo isso aí que está sendo apresentado: um fiasco porque atrapalhou o desempenho dos artistas no que interessa. Mas, o que importa? As cidades todas vão ganhar com a Copa do Mundo, defendem os visionários de bolsos cheios. Estádios construídos em locais onde o futebol merece um campinho com arquibancada de madeira serão os futuros monumentos fantasmas do delírio coletivo alimentado com dinheiro da ninguenzada. E se alguém aí pensou que é mera coincidência a realização do torneio em ano de eleição presidencial, pode continuar pensando. Nossa presidente estava lá no palco do sorteio e tentou mostrar conhecimento sobre o esporte bretão, apesar de todo mundo continuar de olho no decote e no traseiro da Fernanda, que brilhava feito uma taça de ouro cobiçada. Se fosse permitido, os adversários dela também subiriam ao palco e, até, fariam um concurso para ver quem faz mais embaixadinhas para convencer o povo sobre quem é o mais capacitado para comandar a zorra a partir de 2015. Essa é uma memória a quente e azeda do que está acontecendo. Não teremos o tal Natal, não teremos Carnaval, comemorações que, na verdade, não existem mais na essência. Teremos Copa do Mundo até o jogo final que, se tudo der certo, terá a seleção do Brasil de um lado. Se tudo der errado, o torneio acaba antes ou não vai existir se o time do Fuleco (pelo amor de Deus!) for derrotado. O tatu vai voltar para a toca com o rabo entre as pernas. A ninguenzada vai entrar na ressaca. Os patrocinadores vão contar dinheiro, assim como a Fifa. E aí começa a campanha para as eleições. Emocionante, não?

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2 ideias sobre “No país do Fuleco

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