15:36O velho mal da pobreza

por Célio Heitor Guimarães

 

Sabe o leitor como se chama aquilo publicado abaixo (Largado na maca)? Mal da pobreza e da desgraça administrativa deste país. O tempo passa, o tempo voa, e a tragédia nacional continua numa boa. Alguns anos atrás, escrevi em O Estado do Paraná uma crônica que tem tudo a ver com o caso aqui narrado. Peço licença para reproduzi-la:

Pedro é um modesto funcionário da portaria de um dos prédios da zona central de Curitiba. Entra no serviço às 13h e sai só depois das 21h. De segunda a domingo, quando ainda tenta fazer algumas horas extras para melhorar o salário no final do mês. Mora longe, lá para os lados de Santa Cândida, não tem carro e amarga o vai-e-vem diário de ônibus.

Dia desses, no trabalho, recebeu um telefonema aflito da mulher. O filho único do casal, um garoto esperto de nove anos de idade, não estava se sentindo bem. Tinha dor na cabeça, passara a vomitar com intensidade e sentia-se extremamente fraco, quase não podendo nem ficar em pé.

Como não podia deixar o serviço àquela hora do dia, em um edifício de grande movimentação, cheio de câmaras e monitores para zelar, Pedro recomendou à esposa que levasse a criança, com urgência, ao postinho de saúde do bairro.

Isso feito, ali foi constatado que o pequeno James tinha a garganta e os ouvidos inflamados. Deram-lhe três injeções, um pouco de soro hidratante e mandaram-no embora.

Quando Pedro chegou em casa naquela noite, o pequeno parecia melhor. Sentou-se no sofá ao lado do pai, ganhou carinho e viu um pouco de televisão. Depois, foi dormir.

Na manhã seguinte, enquanto barbeava-se, Pedro viu, pelo espelho do banheiro, que o filho não parecia bem. Deitado na cama, tinha o olhar parado e a expressão de dor. Um filete de baba escorria, também, de sua boca. Indagado, o menino apenas queixou-se de dor de cabeça. Deram-lhe um comprimido de analgésico.

Como a situação persistisse, Pedro e a mulher resolveram voltar ao postinho de saúde do bairro. Mas bastou colocarem a criança de pé e o vômito recomeçou, a fraqueza geral e ameaça de desmaio.

Mal deu para chegar ao postinho. Minutos depois, o filho de Pedro, nove aninhos de idade, um monte de pequenos sonhos na cabeça e todo o futuro pela frente, estava morto.

Do que morreu Jaminho? Pelos sintomas descritos pelo pai, de meningite, possivelmente. Mas os médicos não souberam dizer. Estão ainda pesquisando. Talvez algum dia descubram.

Sabe do que morreu o Jaminho, prezado leitor? De pobreza – como bem diagnosticou o meu amigo Márcio Augusto, advogado como eu, mas em dia com as moléstia deste país. Tivessem seus pais recursos e pudessem tê-lo levado a um hospital mais equipado, de recursos e interesse dos atendentes, muito provavelmente ele ainda estaria vivo. Desgraçadamente, não tinham.

É nessas ocasiões que me dá uma raiva danada dos governantes, gente que sobe ao poder cheia de intenções e promessas e vai deixando tudo para depois. Lula, certamente, não é o culpado da situação trágica da saúde no Brasil. Quando chegou lá já a encontrou instalada.

Mas o que ele tem feito no setor, nestes primeiros dois anos de reinado? A resposta foi dada na semana passada naquele postinho de saúde da Boa Vista.

Depois, leio na coluna do Alex Gutenberg que dos impostos arrecadados pelo Governo Federal, 97% vão para o FMI e para o pagamento de pessoal. Os restantes 3% é que são investidos em saúde, educação, transporte e segurança. Dados oficiais.

É preciso dizer mais alguma coisa? Resta-nos chorar.

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