por Marta Pontes

E então branquelos (inclusive eu)? Reduzimos o dia da Consciência Negra a um pobre debate sobre feriado. Parabéns!
Não fosse pelo feriado, o dia seria mais insignificante ainda. O Dia da Mulher é polêmico, a macharada se enerva, as machistas fazem confusão, rola polêmica, drama, ciúmes, piada. Dá uma chacoalhada, movimenta a imprensa e dá visibilidade. Sem feriado.
Não vi nem 1/4 da ebulição do Dia da Mulher, no dia da Consciência Negra. Não tenho dados estatísticos e moro na branquinha Curitiba, talvez minha percepção possa estar equivocada. Talvez não seja 1/4, mas que é menor, é.
Por quê?
Por que o feriado ficou mais importante que o tema? Por que tão poucas manifestações nas Redes Sociais? Será que é porque tenho poucos amigos negros? Mesmo eles, quem se manifestou, o fez timidamente.
Estrategicamente nos escondemos no feriado. Sabe quando a criança faz bobagem, como arrancar o brinquedo do colega e rapidamente diz: Não fui eu! Foi o que fizemos, nos escondemos covardemente, pra não levar bronca. Afinal de contas não fomos nós que escravizamos!
Não, não escravizamos, mas somos preconceituosos. Uns mais, outros menos. Mas somos. Todos, inclusive os que sofrem o preconceito, mais cedo ou mais tarde reagem como tal, com foco diferente, com intensidade diferente, mas descarregam sua raiva. Pronto, está armada a confusão. Enquanto ficarmos observando a vida do alto da nossa boa vida, em nossos castelinhos Disney, e não assumirmos nosso preconceito, nunca vamos entender o significado das cotas, porque tem que ser feriado, porque as turmas de escola das minhas meninas não são P/B, etc, etc…
Somos assim, imperfeitos. Tudo bem. Só não pode ficar chacoalhando o ombro e ligar o “foda-se” pra esse assunto, só porque você é branquelo(a). Por favor, sai dessa inércia e olhe o mundo com mais responsabilidade e amor.
Com carinho pra todos os meus amigos que um dia foram discriminados pela sua cor, pelo seu gênero, por sua opção sexual, por sua idade avançada…