9:02Os bandidos que querem voltar a ser mocinhos

por Célio Heitor Guimarães

 

Eu tinha me proposto a não escrever mais uma linha sequer sobre a sujeira do mensalão. É um caso de polícia, já decidido pelo Judiciário, com base em consistente conjunto probatório. O fecho começou a ocorrer no dia 15 de novembro, quando o ministro Joaquim Barbosa, do STF, revalidou a proclamação da República no Brasil. No entanto, os fatos que se sucederam obrigam-me a rever aquela decisão.

 

Doze dos condenados foram recolhidos ao xadrez na sexta-feira e no sábado. Doze não; onze, porque Henrique Pizzolato, que Lula já quis transformar em governador do Paraná, bateu asas. Enquanto os eficientes advogados de defesa e alguns eminentes homens da toga superior embolavam o meio de campo, procrastinando o caso, Pizzolatto, de dupla nacionalidade, saiu de fino e foi acoitar-se na velha Itália de seus antepassados. Mirou-se no exemplo de Salvatore Cacciola e fez o caminho inverso do colega e conterrâneo Cesare Battisti.

 

Os que ficaram foram recolhidos aos costumes. Três deles, os mais graduados – José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares – chegaram à carceragem posando de vítimas. Punhos cerrados e levantados à moda bolchevique, tentaram passar à plateia a imagem de heróis nacionais, presos por perseguição política. Heróis e presos políticos uma ova! São bandidos, criminosos comuns, quadrilheiros, corruptos, corruptores e corrompidos, assaltantes do Estado e da Nação em nome de um poder vitalício e sob as bênçãos do padroeiro São Lula da Silva. Foram regularmente denunciados e julgados na forma da lei, com todas as oportunidades de defesa, até demais – coisa que muito pouco brasileiro tem.

 

Agora, no xilindró – com regalias incomuns, como a visita de advogados, amigos, políticos e familiares fora de hora, enquanto a família dos demais detentos, gente comum, tem de submeter-se às regras de praxe, esperar o dia de visita e enfrentar longas filas à espera da necessária senha de acesso –, tentam manter a pose e o poder. E, se as autoridades prisionais baixarem a guarda, continuarão ditando ordens de dentro do presídio, tal qual os comandantes do Comando Vermelho e do PCC.

 

À porta da cadeia, o PT que não é mais aquele e a companheirada de Zé Dirceu, Zé Genoino e Delúbio montaram o seu circo. Acampamentos povoam o redor da Papuda, numa rede de solidariedade sem precedente. Só falta convocarem os Black Blocs para depredar o Supremo Tribunal Federal. Numa única palavra: patético! Uma encenação e uma palhaçada sem nenhuma graça. O resultado poderá ser a perda da reeleição pela companheira Dilma.

 

O mais triste de tudo é que José Dirceu e José Genoino foram figuras importantes na história recente do Brasil. O primeiro, como líder estudantil, ídolo de uma geração, um autêntico “revolucionário de romance”, como bem definiu a jornalista Eliane Cantanhêde. Era o ideólogo da turma, corajoso e feroz combatente da ditadura de 64. Genoino participou do movimento do Araguaia, do qual é um dos únicos sobreviventes, comeu o pão que o diabo amassou, foi preso e torturado pelos militares, sem jamais haver perdido a dignidade. Aliás, pelo que se sabe, era um rebelde ponderado, conciliador, que se tornou uma referência dentro e fora do PT. Ambos se diziam soldados da liberdade e tinham consciência do Brasil que queriam, bem diferente de Luiz Inácio da Silva, que jamais teve ideologia.

 

O diabo é que a chegada ao poder borrou as biografias de Dirceu e de Genoino e fê-los mudar de sonho: trocaram um país mais justo e mais igualitário por um partido forte e imbatível, capaz de perpetuar-se no poder, sem limites ou opositores. Para tanto, tudo seria possível. Às favas a decência, a ética, a moral, a lei e até mesmo a ideologia! Antigos desafetos passaram a ser parceiros, patifes comprovados viraram irmãos, Lula deu um grande abraço em Maluf, beijou Sarney e passou a achar o impeachment de Collor mero joguinho político…

 

Felizmente, os tempos estão mudando. A rapaziada aprendeu a ir para as ruas. John Wayne morreu, Clint Eastwood envelheceu, Zorro saiu do armário, mas Gotham City tem um novo Batman.

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7 ideias sobre “Os bandidos que querem voltar a ser mocinhos

  1. FISCAL DA MEDIOCRIDADE

    Célio Heitor Guimarães é um bom advogado e bom ensaísta, mas comemorar as prepotências jurídicas e midiáticas do Batman do Judiciário brasileiro – como ele parece considerar o Joaquim Barbosa – não faz jus a sua inteligência e história. Desconsiderar ou ignorar o absurdo e a violência de prender um homem doente como o Genoíno em regime fechado quando foi definitivamente condenado em semi-aberto apenas demonstra que o ódio contaminou as normalmente lúcidas palavras de Célio. Triste!

  2. Pontes de Miranda

    (. . . ) Para tanto, tudo seria possível. Às favas a decência, a ética, a moral, a lei e até mesmo a ideologia! Antigos desafetos passaram a ser parceiros, patifes comprovados viraram irmãos, Lula deu um grande abraço em Maluf, beijou Sarney e passou a achar o impeachment de Collor mero joguinho político…

    e.t Essa frase é de um apedeuta, ou esta se fazendo de bobo para enganar incautos. A nossa lei eleitoral – que urge uma reforma – diz que só se governa esse país através da maioria, então as ideologias vão as favas: se não houver negociações(sic) é golpe de estado, um partido como o PT ganha as eleições, mas não consegue governar sem acordar com esses estrupícios.

  3. Estanislau - Livre Pensador na Curitiba dos Comissionados.

    Caixa Dois do PT é formação de quadrilha e merece as manobras criminosas do Barbosão e do PIG para eliminar os envolvidos no caso.

    Caixa Dois do PSDB e do DEM seria um coletivo de quadrilha? rs rs rs.

    Imagina o Gilmar Dantas julgando o metrosão:

    Diria o Gilmar:

    – Gran-des em-pre-sas mul-ti-na-ci-o-na-is corrompem políticos cheirosos e bem preparados do PSDB e da ARENA. Durante a Era PSDB-DEM que tem devastado o estado de São Paulo há anos a fio. k k k

    http://www.viomundo.com.br/denuncias/quando-denunciado-politico-tucano-nao-tem-partido.html

  4. Ednei

    Vamos aplicar a teoria do DOMINIO DO FATO, no celio ( tudo minusculo) tenho lido tanta besteira na internet, posições equivocadas sobre o mensalão…. entao vamos aplicar a teoria para o celio, lapeano….todos os indicadores, ( tiradas das suas manifestações neste blog) são para uma pessoa extremamente conservadora, machista, preconceituosa e que se acha acima do bem e do mal….

  5. Estanislau - Livre Pensador na Curitiba dos Comissionados.

    Só pelo título do artigo dá para interpretar o reacionarismo do escritor.

    Os bandidos que querem voltar a ser mocinhos – se tivesse posto uma interrogação no final da frase?????

  6. antonio carlos

    Estamos vendo um espetáculo assaz triste, queremos reescrever a História. E por quê? Pois é, a pergunta requer uma resposta, resposta difícil esta. Os méritos dos ladroes do Mensalão não podem ser negados, mais os seus malfeitos também não, então temos um empate. Mas todos sabem que um acerto não justifica um erro, e os acertos do passado não justificam os erros do presente. De quê e para quê exumarmos o cadáver do Jango? De quê nos adiantará sabermos se ele morreu de gripe ou de febre amarela? Vamos ficar voltando ao passado sempre? É pra frente que se anda. É inegável que o passado é o guia do presente e do futuro, mas ficar chorando sobre o leite derramado não vai resolver nada. E lugar de ladrão não é na cadeia?

  7. Jeremias

    A posição do articulista sobre Pizzolato é contraditória com a posição do mesmo articulista sobre o senador boliviano que não quer ser julgado pelas leis bolivianas e que fugiu para o Brasil.
    E os dois textos foram publicados neste mesmo blog, com diferença de poucos dias. Nem parece que foram escritos pelo mesmo autor.
    Vá entender!

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