10:21SOPA DE PEDRA

de Rubem Fonseca

 

Um escrevia o nome da mulher amada com letras de

[macarrão

Enquanto a sopa esfriava no prato.

Outro era metade solidão e metade multidão.

Estou de olho neles.

Um andava com a espada sangrenta na mão.

Outro fingia que sentia o que de verdade sentia.

Este dizia que não cabe no poema o preço do feijão.

Estou de olho neles.

Este vê a vida como origem de inspiração,

A vida que é comer, defecar e morrer.

Todo poeta é maluco.

Estou de olho neles.

E também tem que ser maluco o pintor

E o músico e o prosador.

A loucura é muito boa

Para todo criador.

Mesmo para os cozinheiros

Ou qualquer inventor.

Estou de olho neles.

É melhor ser capenga do que cego.

A poesia é uma sopa de pedra.

Cabe tudo dentro dela.

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