7:54Cornetinha

por JamurJr

 

Magro, crítico e ótimo nas tiradas, muitas delas ácidas, atingindo a pessoas como lanças afiadas. Gostava de respostas irônicas para perguntas óbvias – ou de interpretação dúbia. Frequentador diário do “Bar dos Bandidos”, na Praça Fernando Amaro, em Paranaguá, Cornetinha era cheio de segredos e manias.

Diziam que uma delas era ouvir a conversa íntima de casais na madrugada. Para isso levava, sempre no bolso do paletó, algumas tampinhas de garrafa que colocava no batente da janela da casa escolhida. Nessa fresta ouvia o que queria para comentar no dia seguinte. Sabia da performance de muitos maridos da cidade.

Silencioso e meio secreto, falava com poucas pessoas, escolhidas como amigos ou apenas bons ouvintes.

Vestia-se com certo aprumo e mantinha a aparência de quem vive em paz com o saldo bancário. Na verdade era uma vida de dificuldades marcada pela simplicidade, disfarçada pelo seu bom humor.

Certa ocasião, quando conversava com dois amigos na praça, chegaram duas mulheres muito bem vestidas e ricamente adornadas com pulseiras, colares e anéis, chapéus muito chiques. Foram em direção a Cornetinha, o mais bem vestido – com um pedido de informação.

– O senhor sabe onde tem manicure?

– Manicure, eu não sei. Eu sei do Felipe Cury e do João Cury, que devem estar lá pelos lados do Mercado Municipal.

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