10:29O médico e o rabino

por JamurJr

 

Competente na profissão e na conquista de amigos, ele é considerado um campeão de simpatia e solidariedade. Divide seu tempo entre o atendimento no consultório e um trabalho de muito esforço e dedicação na manutenção de um orfanato na cidade. Em seu dia a dia de médico, gasta longas horas atendendo amigos que, na maioria das vezes, não pagam a consulta. Velhos e novos amigos, pessoas que viu de passagem na Boca Maldita, chegam ao consultório com problemas de saúde e sem dinheiro. Muitas vezes paga de seu próprio bolso os medicamentos que receita. Especialista em urologia, é um dos mais requisitados para exames de próstata. Certa ocasião ganhou um livro de um escritor paranaense com uma dedicatória muito sugestiva: ” Para o doutor do toque suave…dizem”. É chamado com freqüência para fazer circuncisão em crianças judias. Costuma fazer esse tipo de intervenção no ambulatório de um hospital da cidade. Esses procedimentos são acompanhados, sempre, por um Rabino. Estes costumam dar palpites e fazer comentários sobre técnicas utilizadas para atender as exigências da religião. Dr. Julio não costuma se submeter a normas que não estejam dentro das técnicas que a boa medicina recomenda para tais ações. Certa ocasião recebeu a visita de um Rabino considerado extremamente exigente e com mania de “enquadrar” os médicos dentro de sua orientação. Mas com o nosso doutor a coisa foi bem diferente. No primeiro contado o líder religioso entendeu que estava diante de um profissional zeloso e determinado.

– O senhor Rabino, pode ficar tranqüilo que as coisas aqui são feitas dentro das técnicas previstas nos bons manuais da medicina. O senhor não dá palpite no meu trabalho e eu não dou palpite no seu trabalho. Entendido?

– Entendido, doutor Julio.

Enquanto fazia os preparativos para circuncidar a criança, o Rabino andava pela sala observando cada detalhe. Em determinado momento, chamou a atenção do doutor para um crucifixo na parede.

– Doutor, olhe na parede.

– Sim. Tem um crucifixo. Qual o problema, Rabino?

– Não pode.

– Pois tire ele daí.

– Não. Nele eu não pego.

 

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