Do ombudsman
Em reportagem publicada na edição de sábado passado sobre a briga de campanha que virou o projeto do Governo Federal para o Porto de Paranaguá, a Folha de São Paulo não revela quem é “o maior jornal do Paraná” e “o líder do governo tucano”, e quem são os “blogueiros simpáticos ao governo”, citados dessa forma. Se a regra está ou não no famoso manual de redação do jornalão, é outra conversa, mas o leitor que não conhece a província em seus detalhes gostaria muito de ser informado. Leia o texto:
Expansão de porto antecipa duelo eleitoral no Paraná
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
Um dos principais entrepostos comerciais do país, o porto de Paranaguá virou pivô da antecipação da provável disputa eleitoral de 2014 no Paraná entre o atual governador Beto Richa (PSDB) e a ministra petista Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
Nas últimas semanas, tucanos e petistas trocaram acusações, e a ministra de Dilma teve de ir a campo para preservar sua imagem.
Paranaguá foi incluído num plano de investimentos do governo federal, capitaneado pela ministra da Casa Civil. Serão R$ 2,6 bilhões, o maior valor entre os portos brasileiros.
O maior jornal do Paraná publicou o anúncio em manchete, com menção e declaração de Gleisi. Mas, em vez de elogios, o plano passou a render contratempos à ministra. O plano de investimentos no porto foi duramente criticado por empresários e pela comunidade da cidade.
Os críticos apontam razões técnicas. Dizem que o governo federal “jogou fora” os estudos de ampliação conduzidos pela administração local.
CRÍTICOS
Eles apontam inconsistências no projeto e reclamam da união de terminais, que, pela magnitude dos investimentos necessários, pode ceifar do porto as cooperativas agrícolas, fortes no agronegócio paranaense.
O governo federal chamou os empresários para debater, colocou o projeto em consulta pública e se diz aberto a alterá-lo. Mas não sem que houvesse respingos na ministra.
Aliados de Richa aproveitaram a onda de críticas.
Blogueiros simpáticos ao governo estadual atribuíram a ela a responsabilidade pelo plano. O líder do governo tucano acusou Gleisi de querer “destruir Paranaguá”.
Na manifestação mais severa, a Faep (Federação da Agricultura do Paraná) estampou na capa de boletim semanal: “A última de Brasília: intervenção de Gleisi em Paranaguá”. Nas páginas internas, fotos da ministra e o título: “Afinal, o que Brasília tem contra o Paraná?”.Blogueiros simpáticos ao governo estadual atribuíram a ela a responsabilidade pelo plano. O líder do governo tucano acusou Gleisi de querer “destruir Paranaguá”.
REAÇÃO
A ministra revidou. Apontou “politização” do tema e se queixou de “injustiça”. Em reunião com os empresários descontentes, virou-se para o representante da Faep e disse que sofreu críticas “desrespeitosas” e “desnecessárias”.
A federação nega ter agido politicamente e diz estar apenas reverberando a opinião dos produtores rurais.
Gleisi também procurou sanar os danos à sua imagem: mandou cancelar uma reunião dos empresários insatisfeitos com a bancada de deputados, para que se encontrasse com eles antes.
Depois, se afastou dos debates, que vêm sendo conduzidos por técnicos da Secretaria Especial de Portos e da Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
Aliados da petista dizem que ela ainda vai colher bons frutos, com o acolhimento das demandas do empresariado -o novo projeto, revisado, será anunciado dia 5.
No front de Richa, já se compara o episódio ao das ferrovias anunciadas pelo governo federal e que atravessavam o Paraná sem passar por Paranaguá, numa iniciativa também sob o comando de Gleisi. Depois de muita negociação, o plano foi revisto.
O maior jornal do Paraná é o Metro. O resto não tem importância.
Cara disse tudo, assino embaixo. A mídia da província insiste em ser chapa branca, ou é edita no Palácio Iguaçu ou é no Palácio do Planalto.