por JamurJr.

 

Em Guaratuba, como na maioria das cidades do litoral, é muito fácil ganhar um apelido. Por qualquer motivo o cidadão fica rotulado para sempre. É o caso do Zé da Urna, um político atuante, simpático, bem falante e que nas horas vagas é comerciante na cidade. Zé tem duas paixões: a política e Nossa Senhora Aparecida. Todos os anos, no dia 12 de outubro, pega o motor-home, alguns amigos e vai pagar promessa e pedir mais ajuda. Naquele ano que antecedia uma eleição para prefeito, Zé já estava próximo da Catedral de Nossa Senhora Aparecida quando viu, caminhando no acostamento, um amigo de sua cidade que tinha outra paixão além de ser devoto da santa padroeira do Brasil: caminhar. E caminhava muito. Nesse mês resolveu caminhar de Guaratuba  até a Catedral de  Aparecida do Norte, para pagar algumas promessas e reafirmar sua fé. Andou muito e já estava sentindo o peso da mochila quando ao seu lado o Zé da Urna parou com o motor-home e fez o convite:

– Vamos Janjão! Entra ai que já esta perto!

– Não, Zé. Preciso chegar caminhando. Esta é a promessa.

– Bom, então vou com você.

O Zé deixou o volante e saiu com o amigo caminhando, mas sem muito entusiasmo. Quando estavam a menos de um quilômetro da  igreja, o Zé sentiu um amortecimento nos pés.

– Janjão, estou com problema nos pés. Não sinto nada.

– Faz como os chineses, Zé. Anda de costas, flexionando a ponta dos pés que isso passa.

E assim fez o  Zé. Foi caminhando mais devagar, de costas, parecendo uma bailarina. Quando passava por um grupo de mulheres ouviu um comentário que não gostou.

– Veja aquele  homem andando de costas. Deve estar carregado de pecados – e dos grandes!

Zé da Urna teve vontade de responder, mas preferiu desabafar com seu companheiro.

– Viu aquelas beatas cretinas, falando sobre meus pecados? Não sabem de nada.

Janjão não deixou o amigo sem resposta.

– É, Zé.. talvez elas sejam da sua cidade e saibam que você é politico.

– Ora,vá pro inferno você também!