No aniversário de dez anos, o melhor presente: uma lata de balas Zequinha. Fui para a cozinha atrás da copeira, o dobro da idade e tamanho. “Quer uma bala, Ana?” Quero. “Então levante o vestido.” Ela ergueu um tantinho – e eu fui dando bala. Acima da covinha do joelho uma nesga imaculada. Em grande aflição: “Levante mais um pouquinho.” Ai, se pudesse ver a calcinha. Com a lata cheia de balas, um colibri nanico nas asas da luxúria. A Ana descalça no terreiro, eu no degrau da escada. Boca da noite, o lampião da cozinha alumiava as pernas, ela suspendia o vestido com a mão esquerda, um lado mais que o outro – nunca verás, criança. Sim, eu vi: duas coxas inteiras, fosforescentes de brancas. E o que eu fiz nem precisa dizer.
de Dalton Trevisan