6:49A arte que vem d’além-mar

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Cisco Kid e Manuel Caldas

 

por Célio Heitor Guimarães

 

Ele é um perfeccionista. E apaixonado pelos quadrinhos (banda desenhada ou BD, em terras lusitanas) desde antes de completar seis anos de idade, quando passou a colecionar o suplemento Pim-Pam-Pum do jornal O Século, editado em Lisboa, Portugal. Aos 11 anos, o pai apresentou-lhe o Príncipe Valente e a arte de Hal Foster. Ficou fascinado. “Fulminado”, melhor dizendo.

 

–- Além dos desenhos, a história também era magistral e havia na série uma unidade sublime – confessaria mais tarde.

 

Pois foi com essa série quadrinizada medieval, obra-prima da era dourada dos comics norte-americanos, que o português Manuel Caldas decidiu que, um dia, seria editor, mas um editor de qualidade e para editar clássicos, como o sublime trabalho de Foster.

 

O sonho de Caldas realizou-se alguns anos depois, em 2005, quando ele criou, de modo caseiro, a editora Livros de Papel, hoje Libri Impressi, em sua cidade- natal, Póvoa de Varzim. Edição inaugural: Príncipe Valente, de Hal Foster. O sucesso foi imediato, abrindo as portas para outros lançamentos: Ferd’nand, Hagar, Krazy Ket, Lance e Tarzan, igualmente de Foster. Que ultrapassou a fronteira de Portugal com a Espanha, conquistando o mercado espanhol.

 

Qual o segredo de Manuel Caldas? A qualidade do trabalho. Coisa de artesão. Sua editora é pequena, mas oferece produtos da maior qualidade, com acabamento primoroso. Caldas faz questão de manter a fidelidade aos originais e a isso junta um talento pessoal: a paciência. Mais do que isso: tem verdadeira obsessão pela qualidade. Às vezes, é capaz de dedicar 20 ou 30 horas na restauração de uma única página! Ao que se saiba, não existe caso similar no mundo.

 

–- O meu objetivo é devolver às imagens a pureza do original e, se possível, melhorá-lo ainda mais, corrigindo pormenores capazes de se ver apenas com lupa – confessa.

 

Na impossibilidade de contar com as pranchas originais das histórias, Manuel recorre às páginas dos jornais da época, compradas pela internet, emprestadas de colecionadores ou digitalizadas. Em seguida, ele trabalha  bstinadamente sobre elas, limpa dos defeitos, remove as cores, quando a edição é um preto e branco) ou restaura-as, “até conseguir atingir o traço original”.

 

Uma das mais recentes ocupações de Manuel Caldas foi com o caubói Cisco Kid, excelente criação do escritor Rod Reed e do desenhista José Luis Salinas. Os três primeiros episódios da série foram reunidos, em um volume de 88 páginas, em preto e branco, com introdução a cores, tamanho 23,4 x 28 cm e preço de 16,50 euros. A versão é em espanhol.

 

Vale acrescentar para os recém chegados ao mundo das HQs que Cisco Kid, publicado no Brasil inicialmente pela Ebal, do pioneiro Adolfo Aizen, nos anos 50 (em 1972, passou pela GEA; em 1974, integrou o elenco de Eureka, da Vecchi; em 1975 saiu pela Rio Gráfica; e em 1987 compôs a coleção Quadrinhos da gaúcha L&PM), figura no rol dos grandes heróis do faroeste, particularmente pelos roteiros bem construídos por Rod Reed e pela belíssima arte do argentino José Luis Salinas (1908-1985). É um justiceiro galanteador e bem humorado, sempre metido em encrencas, ao lado do parceiro, o gorducho Pancho (óbvia referência a Sancho Pança, de Dom Quixote), e do belo corcel Diablo. Criação literária do norte-americano William Sydney Porter (1862- 1910), que se assinava O. Henry, chegou aos quadrinhos em 15 de janeiro de 1951, lançado pelo King Feature Syndicate, permanecendo em atividade até 1968. O herói ganhou notoriedade, também, no cinema e na televisão, vivido por Duncan Ronald, Gilbert Roland, Cesar Romero e Jimmy Smits. Aos eventuais interessados, o endereço eletrônico do editor Manuel Caldas é [email protected]. A página dele na internet é www.manuelcaldas.com. Com as despesas de postagem, o volume de Cisco Kid fica em 21 euros.

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