8:19Norma Bengell, adeus

Da Folha.com

 

Atriz Norma Bengell morre aos 78 no Rio

 

A atriz e cineasta Norma Bengell, 78, morreu por volta das 3h desta quarta-feira, no Rio de Janeiro, segundo informações de familiares.

Norma estava internada desde sábado (5) na unidade Bambina do Hospital Rio-Laranjeiras, no Botafogo, zona sul do Rio. Ela lutava há pelo menos seis meses contra um câncer no pulmão.

Não há informações sobre o local do velório, mas o corpo da atriz será cremado no Cemitério do Caju.

 

Carreira

Inspiradora de “praias, sertões e amazônias”, segundo Glauber Rocha, Norma Bengell nasceu no Rio em 1935.

Filha única de um imigrante alemão, Norma iniciou carreira nos anos 50, como modelo. Depois, tornou-se vedete de shows de Carlos Machado, na casa noturna Night & Day, quando foi descoberta por Ruy Guerra para contracenar ao lado de Oscarito, em “O Homem do Sputnik” (59).

Por “O Pagador de Promessas” (62), foi contratada pelo produtor Dino de Laurentis, que a levou para o cinema italiano com “O Mafioso”.

Além da entrada na Europa, “O Pagador” acabou rendendo a Bengell uma lembrança menos lisonjeira de Anselmo Duarte. Em seu livro “Adeus, Cinema”, o cineasta afirma ter transado com a atriz para ela “não ir embora” do filme.

No fogo cruzado, Bengell rebateu dizendo que “preferiu se apaixonar por Alain Delon”, ator que conheceu em Cannes, também em 62.

Dois anos depois, casou-se no estúdio da Vera Cruz, durante as filmagens de “Noite Vazia”, com o ator Gabriele Tinti, em altar improvisado por Walter Hugo Khouri. O relacionamento acabaria oito meses mais tarde.

POLÊMICA

Banida de Belo Horizonte, em 1966, pela Associação de Donas-de-Casa de Minas Gerais, por conta do nu de “Os Cafajestes”, a “mulher mais desejada do Brasil” nos anos 60 -nas palavras de Jece Valadão- também já foi sequestrada, parceira sexual de Mick Jagger em videoclipe e protagonista de beijo em Itamar Franco.

Em 68, ano em que encenou a peça “Cordélia Brasil”, de Antônio Bivar, em São Paulo, foi levada ao Rio por três homens do 1º Batalhão Policial do Exército, onde foi interrogada por cinco horas sobre “a subversão na classe teatral”.

Atriz de filmes que costumavam cair no radar da censura, Norma se exilou na França em 1971. À Folha disse, em 2010, ter perdido as contas de quantas vezes foi detida pelo regime militar.

Mais uma vez no terreno da polêmica, em 84 a atriz afirmou ter feito 16 abortos por ser “um saltimbanco por escolha”.

No mesmo ano, filmou com Mick Jagger o videoclipe da música “She”s the Boss”, em que fazia o papel de “fazendeira decadente e autoritária”.

“Cruzei as pernas sobre o dorso do Mick para roubar a cena e copulei feito uma louca, enquanto ele cantava. Cavalguei um garanhão, ele enlouqueceu. Claro, depois eu avisei: “Olha, estou acostumada, só fiz isso na vida'”, disse à época.

Além de atriz de teatro, cinema e novelas como “Partido Alto”, da Globo, Bengell ainda gravou discos como “Norma Canta Mulheres”, produzido por Guilherme Araújo.

Em 2010, a atriz ganhou status de anistiada política por ter sido perseguida pela ditadura militar, além direito a indenização.

Seu retrato com outras atrizes na Passeata dos Cem Mil, no centro do Rio, em 26 de junho de 1968, foi usada pela campanha da então candidata Dilma Rousseff.

SEQUESTRO DE BENS

Em 2007, disse à Folha que ‘O Guarani’ era a única mácula de sua carreira. “[…] Não estou numa situação difícil de passar fome, mas tenho de trabalhar para ganhar dinheiro. O que eu roubei d”O Guarani’ deve estar na Suíça, né? Se amanhã eu ganhar um Oscar, alguém vai falar: ‘E ‘O Guarani’?’ É a única mácula na minha carreira.”

A atriz se envolveu num imbróglio jurídico envolvendo a prestação de contas de “O Guarani” (1996), longa-metragem em que Norma acumulou os papeis de produtora e diretora.

Fracasso de público e crítica, o filme teve autorização do Ministério da Cultura (MinC) para captar, via leis de renúncia fiscal, R$ 3,9 milhões. Levantou R$ 2,99 milhões.

O MinC achou notas frias na prestação de contas e passou o caso ao Tribunal de Contas da União, que também acusou retirada de “pró-labore” (quantia que o produtor destina a si mesmo pelo trabalho realizado) em valor superior ao permitido –e determinou a devolução de R$ 3,8 milhões.

A Justiça do Rio decretou a indisponibilidade dos bens de Norma, e ela foi indiciada pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e apropriação indébita.

“Não me importo nem um pouco. Tenho a consciência limpa. Sei onde ponho meu nariz, de onde pego minhas coisas”, afirma, voltando a se emocionar. “Seria incapaz de mexer no que não é meu”, disse à Folha em 2007.

Segundo ela, o ministério “implicou com uma nota dada por uma pessoa que não tinha pago ISS ou INSS, um ‘s’ desses”. Norma diz que, ao perceber que havia levantado mais dinheiro do que precisaria, devolveu R$ 500 mil ao MinC.

Ao fim do projeto, restou à produtora e diretora uma remuneração de R$ 17 mil. “Falei ‘não é possível!’. Era um trabalho de dez anos. Então, [integrantes da equipe] falaram que eu tinha de me pagar. Aí, peguei um dinheiro lá e botei no meu pagamento. Não avisei ao MinC, e isso não pode. Me dei R$ 400 mil, porque os cineastas ganham R$ 500 mil, R$ 800 mil, R$ 1 milhão.”

Ela disse em 2007 que um processo foi arquivado, dois foram ganhos e outro estava está em aberto. Na época, bens estavam bloqueados.

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