7:17E agora prefeito?

por Gilson Santos

 

O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, cumpria agenda no gabinete da sede da prefeitura quando a cidade foi tomada por uma forte tempestade no dia de ontem. Imediatamente suspendeu a programação e concentrou atenções no atendimento às várias frentes de trabalho estabelecidas. Era fim da tarde e durante a noite Fruet teria ainda outros três compromissos, entre os quais o lançamento da campanha Outubro Rosa. Todos cancelados.

 

O estrago na cidade foi grande e Fruet permaneceu na prefeitura, também afetada pela tempestade, até a noite. De lá seguiu para a Secretaria de Meio Ambiente, onde uma reunião foi realizada para avaliação do quadro inicial. Na sequência foi para a sede da Urbs, que fica na rodoferroviária da capital, onde os fortes ventos promoveram a maior destruição entre os prédios públicos. Como lá está o centro de operações do trânsito, a atenção é redobrada. Quando chega na Urbs, por volta das 22 horas, desce do carro e ligeiramente é reconhecido por uma senhora carregada de malas e bolsas. “Prefeito, que bom encontrá-lo, isso aqui está um caos, não tem nenhum guarda para ajudar”, reclamou. Ainda com um pé no carro, Fruet concordou: “Boa noite! Sim, está um caos e os guardas estão todos nas ruas, estamos com 250 semáforos desligados e muitas árvores caídas, mas como posso ajudá-la?” A senhora recuou no tom da reclamação e informou que já havia feito contato com a pessoa que iria encontrá- la. Por fim, agradeceu. Neste meio tempo, um senhor, chapéu, jaqueta, aparentando uns 65 anos, se aproximou e acompanhou a conversa. Quando o prefeito tirou o segundo pé do carro, ele interviu: “Maurício, preciso de uma ajuda”. Na garoa e em meio ao vai e vem de pessoas e carros, o prefeito responde: “Boa noite, pois não, do que se trata?”. Naquele instante, o assessor do prefeito que assistia ao lado previu que poderia ser mais um pedido de emprego, uma reclamação dos táxis, do transporte coletivo, das unidades de saúde ou até mesmo o pedido de uma passagem de ônibus. Nenhuma das alternativas. “Vim buscar minha esposa e na correria fechei o carro com a chave dentro. Ela está chegando de viagem e é muito brava, não posso nem pensar em falar que fiz isso, só não sei o que faço agora”, contou o senhor, visivelmente preocupado.

 

E agora prefeito?

 

Morador de Almirante Tamandaré, o cidadão informou que estava sem telefone e com todas as pessoas que tentou ajuda não obteve êxito. “Já tentamos, mas ninguém conseguiu abrir”, reforçou. O prefeito tinha ainda que vistoriar os estragos do vendaval no local e participar de reunião no controle de operações com equipes da Urbs e Setran. Sabedores disso e na tentativa de agilizar os trabalhos, o assessor e o motorista de Fruet se prontificaram à tarefa inusitada.

 

Lá foram eles!

 

Por cerca de uma hora e meia, o prefeito permaneceu no local e quando saiu da reunião avistou o assessor e o motorista debruçados sobre o veículo. “Não deu certo? O senhor quer uma carona? Precisa que avise alguém da família?”, perguntou Fruet. “Isso não, precisamos abrir o carro porque minha esposa já chegou, não sabe que estou aqui, e Deus me livre ela saber que fechei o carro com a chave dentro. Eu moro longe e ela já deve estar muito brava comigo”, explicou, desesperado.

 

Todos os tipos de chaves disponíveis já haviam sido experimentadas e o sinal de rede de celular oscilando dificultava busca na internet para contato com chaveiros. “Por favor, prefeito, vamos continuar tentando”, pediu o senhor, enquanto todos debaixo de chuva e pensativos olhavam a chave na ignição do veículo. No meio do material que havia caído do telhado da Urbs, uma fina barra de ferro apareceu como opção para o resgate da chave. Fruet, o motorista, o assessor e um operário da rodoviária reiniciaram os trabalhos. E o dono do carro? Ele acompanhava roendo unhas e tremendo, provável, não do frio, mas de medo da esposa.

 

A chave não saiu, mas a barra serviu para pressionar o pino da trava da porta e levantá-lo. “Graças a Deus”, disse o motorista, erguendo os braços para o céu. O problema estava resolvido e o Corsa Sedan placas de Almirante Tamandaré aberto. “Que bom, agora vamos em frente ver como está o trabalho das equipes de limpeza pública, Setran, Urbs e Copel. Espero que sua esposa não esteja muito brava e vocês voltem bem para casa”, disse o prefeito. Alegre, já com a chave nas mãos, o senhor completou: “Muito obrigado Maurício, e fazia tempo que não o via, você parece mais novo”.

 

Caminhando para o seu carro, Fruet olha para os assessores e diz: “E quem vai acreditar em uma história dessa?”

 

 

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Uma ideia sobre “E agora prefeito?

  1. maria isabel motta da silva

    Este é o nosso Prefeito…sempre pronto a ajudar o povo….eu acredito na sua estória Gustavo, parabe´ns por td que está fazendo por nossa cidade…e mto obrigada…sou sua fã. abraços.

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