10:36O Baixinho do cheiro

por JamurJr

 

Sua entrada na Casa da Lucinda provocava um certo alvoroço entre as mulheres que o disputavam. Era o Baixinho. Quem assistia a cena tinha dificuldade para entender. Feio e desajeitado, era o favorito delas. Como? Por que? A pergunta não encontrava uma resposta razoável. Trabalhava num clube de Paranaguá como atendente, servindo os jogadores que se reuniam quase todas as noites para animados jogos de buraco. Simples, humilde, de pouca conversa, trabalhava sem se perturbar com as exigências da seleta freguesia até o início da madrugada. Quando todos iam embora, o Baixinho se transformava. Virava um apaixonado pela noite no baixo meretrício.Seguia uma rotina. Todas quintas-feiras descia a rua Pêssego Júnior até a Casa da Lucinda, no último quarteirão. Discreto, escolhia a parceira e sem mais conversa, sem bebida, sem dança no salão. Ia direto para o quarto. Era considerado um dos melhores clientes para as mulheres da casa. Chegava sempre perfumado com Loção Itamaraty, cabelos cheio de Glostora. Certa noite, uma das mulheres,  já calibrada por várias doses de “Cuba Libre”, revelou o segredo da preferência pelo Baixinho. Ele pagava bem e não dava o maior trabalho para a parceira. Tinha uma fixação em calcinha. Era seu fetiche. Dormia com uma sobre o rosto ao lado da parceira escolhida e no início da manhã saía levando a peça íntima para sua coleção. A história revelada para os fofoqueiros da cidades ganhou várias versões. E o Baixinho recebeu um apelido com o qual ficou conhecido por muitos anos: Cheira Calça.

 

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