7:01Sabão afrodisíaco

por JamurJr

 

Era famoso em toda a região como um conquistador insistente e ousado. Galanteios pouco sutis e cantadas diretas eram disparados toda vez que encontrava uma mulher bonita.

 

Em algumas ocasiões partiu para ataque frontal, com passada de mão na região glútea de algumas beldades locais, recebendo em troca bolsadas e chutes na canela que muitas vezes erravam o alvo e atingiam locais mais sensíveis.

 

Colocava o olho numa mulher interessante e já partia para a conquista, muitas vezes sem avaliar os riscos. Solteiras, viúvas e casadas, todas eram alvo de suas investidas. Exibia uma cara simpática e um jeito de “homem respeitador”.

 

Por trás dessa imagem estava um caçador implacável, sempre à procura de uma presa para dividir o acolchoado de lã de carneiro nas noites frias de Guarapuava. Era o mais atrevido de todos os conquistadores da cidade.

 

Durante um tempo botou o olho para cima de comadre Maruca, uma mulher madura que conservava formas exuberantes, seios fartos e belas ancas montadas sobre pernas fortes e bem feitas.

 

Compadre Laurinho, marido de Maruca, costumava sair para o trabalho onde permanecia até o final da tarde.

 

O conquistador programou uma visita, com segundas intenções, no meio da tarde. Chegou com disposição de passar à cantada do ano e realizar uma de suas melhores conquistas. Foi entrando, cumprimentando como quem chega para uma simples conversa de compadres.

 

– Como vão as coisas, comadre: Laurinho está?

 

– Pois não há de vê que ele ainda não chegou? Mas, se abanque que eu vou preparar um chimarrão.

 

O convite para um chimarrão foi entendido como um sinal de abertura para dar andamento a seu plano.

 

– Opa, ela já entendeu e está abrindo a porteira! – pensou.

 

Passou a primeira cuia com o chimarrão fervente e na segunda rodada, disparou uma cantada repentina.

 

– Comadre, não me leva a mal, mas tenho observado seu jeito e não resisti.

 

Dito isso foi chegando mais perto com olhar pidão e as narinas abertas como cavalo fogoso em tempo de cobertura, como dizem na região. Foi surpreendido com uma recusa delicada e firme que revelou a fidelidade de Maruca com o marido.

 

– O compadre me desculpe, mas não sou isso que está pensando. Nunca traí Laurinho e não vai ser agora.

 

Percebendo a gravidade da situação, tentou se livrar do problema.

 

– Mas, a comadre me desculpe, se não me fiz entender. Não é bem isso nem aquilo ou aquilo outro. Nem pensei nisso.

 

E foi desfilando um roteiro de desculpas com objetivo de confundir Maruca e se livrar de alguma reação violenta de compadre Laurinho, que nesse momento já despontava na curva próxima à entrada do sítio.

 

– Olha, compadre, o Laurinho está voltando.

 

– É, mas estou indo embora.

 

– Mas, que é isso!. Fica “home”. Ele não vai gostar de saber que o compadre não esperou.

 

Quando o marido chegou, Maruca resolveu dar uma lição no compadre conquistador.

 

– Sabe, marido, o compadre aqui, me fez uma proposta.

 

– Proposta? Que proposta?

 

– Sabe, compadre – disse o conquistador, numa tentativa de interromper o diálogo – na verdade já estou indo embora.

 

– Não, não, compadre. Quero saber de sua proposta. Tome mais um mate e fale da proposta.

 

Foi Maruca quem interrompeu o sofrido diálogo com uma história que deixou o conquistador aliviado e muito confuso.

 

– Sabe, marido, o compadre ofereceu 50 contos pelo burrico manco.

 

– Mas, é? Esse burrico não presta pra nenhum serviço. Não consegui vender nem por um conto. Pra que o compadre quer dar tanto dinheiro pelo burrico?

 

_É, é…é o seguinte, compadre. É pra fazer sabão: coisa nova. Dizem que saiu no rádio uma notícia de que sabão feito de burrico é “frodisíaco”. Quem se lava com ele fica mais macho.

 

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