por Bernardo Bittencourt

Lá pelos idos de 70 e poucos, no pátio do Canal 4, nas Mercês, o Paulo Chaves me chamou  e convidou para entrar no carro. Entrei e ele tirou um cartuchão de fita e colocou no aparelho de som. (Caramba, como eram enormes os cassetes de então!) O carro foi invadido pelo som de uma guitarra forte e uma voz suave. Era George Benson cantando “This masquerade”, de Leon Russel. Belíssima canção com um arranjo espetacular.

Encerrada a música Paulo desligou o som e disse: ” Pronto, chega!”  Saí do carro encantado com os acordes de Benson e com um belo solo de piano. Uns meses depois consegui o LP de Benson e após quase gastar o disco, encontrei o Paulo e então, todo exibido, feito o rei da cocada preta, já fui despejando as coisas no ouvido dele. Sobre a gravação e principalmente sobre o solo de piano que era do maestro Claus Ogerman – que foi o arranjador do disco de Frank Sinatra e Tom Jobim e mais um mundaréu de gente de primeira. E o Paulo com aquele seu jeitão calmo põe a mão no meu ombro e diz: “Sim, eu já sabia”. E foi embora rindo.

Depois andamos juntos um bocado de vezes, indo assistir o treino do Atlético na velha Baixada, nos bailes da vida e nas ondas do rádio e na vida.

Pois o Paulo foi “mau-caráter” só uma vez. E foi no sábado passado. Morreu sem avisar. Fiodaputa!

Foi fazer uns arranjos junto com outro danado, o Jonas Castro Deus (outro fiodaputa que partiu antes da hora). Depois de algum tempo ouvi Benson em homenagem, a ele. O arranjo continua lindo, mas fiquei mais triste após ouvi-lo.

Fique em paz.