10:34Um barco na noite

Do blog Cabeça de Pedra

 

Todos fomos acordados no meio da madrugada. Amarrotados que estávamos da viagem de Belém a São Luis. Era preciso atravessar o rio num barco fechado. A luz era mínima. Entramos e nos sentamos em dois bancos que nos deixavam uns de frente para os outros. Ninguém se olhava. Quando o motor a diesel acelerou e começamos a navegar, parecia que a escuridão do infinito tinha tomado conta de tudo. A quilha cortava a água e a maioria fechava os olhos. A margem que deixamos se elevou até o céu – e a que nos esperava estava abaixo da linha da água. Era como um daqueles precipícios de pesadelo, onde caímos até acordar. Um solavanco tirou todo mundo daquele pavor. Saímos. Esperamos mais um pouco o ônibus que continuaria a viagem. Entramos. O dia começou a clarear e a floresta que ladeava a estrada era de um silêncio que remetia aos deuses. Mas o barco e aqueles longos minutos sobre a correnteza do rio ficaram marcados a ferro e fogo em todos aqueles corações.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.