17:50Os ninguéns

por Eduardo Galeano

 

As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

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2 ideias sobre “Os ninguéns

  1. Glauber Rock

    Aí..vc não quer que a vá para o Bar Ligeirinho, ZB. Eduardo Galeano, escritor das “Veias Abertas da América Latina” – peça para aqueles dois que puxam o saco de vc o Juca e o Leandro, para lerem esse livro -, Galeano é o meu “símbalo sexual(sic) do jornalismo.

    ZB essa frase do Galeano é para nós;

    “Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.” – Eduardo Galeano

    Aghora eu FFFUUUUIIIIIIII……

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