por Sergio Brandão
Me apavora a calma dos médicos. São lineares. Usam o mesmo tom de voz para todas as informações que precisam dar. As feições também não mudam, seja no anúncio da morte ou da cura.
Há quatro anos levei meu pai a um médico vascular. Linfângio celulite bolhosa – disse ele, como quem escala um time de futebol. Terminou sua resenha dizendo que não havia muito coisa para ser feita. Sugeriu rezar. Mais tarde, outro doutor, o do plantão da UTI, disse que tudo era uma questão de horas. Não foi. Em poucos minutos ela chegou.
Comigo tem sido diferente. Alguém muito maior que eu e ela me avisou que nos próximos anos travaríamos uma batalha. Sinto que ainda estamos no começo. A peleja não começou direito. Ela joga sujo. Mina também pelo emocional. Por ali tenta tirar a munição que mais uso nestas horas.
Ao meu lado, a vida que ainda começa com o nome de Helena é uma arma secreta que uso e que me garante como um gladiador nesta briga.