6:55A arma secreta

por Sergio Brandão

 

O prédio é o mesmo. Só as salas são diferentes. Numa tenho a notícia que aos 52 anos serei pai. Terei uma vida nova para cuidar, ajudar a entender este mundo maluco.  Anos mais tarde volto ao mesmo prédio, mas em outra sala, onde recebo a notícia de que a morte me ronda. Não se preocupe, está tudo sob controle – diz o médico. Fizemos o que tínhamos que fazer e agora precisamos ficar alertas com novos tumores que podem surgir. A cada investigação, vai um pedaço do intestino. Às vezes centímetros que são tirados para investigação. O ressecamento garante que aquele bicho está morto. Mas a cada um dos exames, lá está ele, querendo renascer em outro lugar.

Me apavora a calma dos médicos. São lineares. Usam o mesmo tom de voz para todas as informações que precisam dar. As feições também não mudam, seja no anúncio da morte ou da cura.

Há quatro anos levei meu pai a um médico vascular. Linfângio celulite bolhosa – disse ele, como quem escala um time de futebol. Terminou sua resenha dizendo que não havia muito coisa para ser feita. Sugeriu rezar. Mais tarde, outro doutor, o do plantão da UTI, disse que tudo era uma questão de horas. Não foi. Em poucos minutos ela chegou.

Comigo tem sido diferente. Alguém muito maior que eu e ela  me avisou que nos próximos anos travaríamos uma batalha. Sinto que ainda estamos no começo. A peleja não começou direito.  Ela joga sujo. Mina também pelo emocional. Por ali tenta tirar a munição que mais uso nestas horas.

Ao meu lado, a vida que ainda começa com o nome de Helena é uma arma secreta que uso e que me garante como um gladiador nesta briga.

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