16:30Eleitor de Dilma, Ratinho está indeciso para 2014

Da coluna de Monica Bergamo na Folha de S.Paulo

 

Ratinho leva Eduardo Campos (PSB-PE) até a saída do estúdio do seu programa no SBT, após entrevistar o governador de Pernambuco, e volta ao camarim. Prepara-se para retornar ao palco e mediar a briga dos participantes de mais um Teste de DNA.

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“Ele [Campos] é uma novidade boa. É um cara de decisão, já provou ser bom administrador. Está pronto para ser presidente. O Aécio [Neves] também”, diz. Sua atração noturna, antes território exclusivo de anônimos e artistas populares, passou a abrir espaço para personalidades públicas e figuras polêmicas, no quadro semanal Dois Dedos de Prosa –ou “Dois Dedos de Próstata”, como brinca com a equipe.

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“Trago alguém que tem alguma coisa para falar. É para dar audiência e atrair um público que não está habituado ao programa”, diz Ratinho ao repórter Joelmir Tavares.

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Em meio a debates sobre homofobia, recebeu os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jean Wyllys (PCdoB-RJ) e o pastor Silas Malafaia. E não escolhe partido: convida do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) aos ministros Alexandre Padilha (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

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Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB-MG) e Marina Silva (sem partido) também ficaram de frente com Carlos Massa. “Meu programa tem a obrigação de politiquizar… poli… Não consigo falar essa palavra [a assessora o ajuda]. Politizar melhor a população. Não tem só a Dilma [Rousseff] de candidata.”

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Ratinho, que foi vereador no Paraná e deputado federal antes de estrear na TV, em 1996, tem ligação umbilical com a política. Seu filho mais velho, Ratinho Júnior (PSC-PR), segundo colocado na disputa pela Prefeitura de Curitiba em 2012 e secretário de Beto Richa (PSDB-PR), aparece bem nas pesquisas para o governo estadual em 2014.

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“Ele não é candidato”, sentencia o pai. “Sou eu que pago as contas. E não vou dar dinheiro nem vou me envolver em campanha para governador. Tenho meus negócios para cuidar.” Mas confirma que o herdeiro tentará ser deputado estadual ou federal. Se a popularidade paterna ajuda? “Sou polêmico. Metade gosta, metade odeia.”

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Ratinho é daqueles que amam o ex-presidente Lula, de quem se diz amigo. “Meu assunto com ele é falar de bobagem, de pescaria, de futebol. Não toco em política.”

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Acredita ter isenção para entrevistar qualquer pessoa. “Não misturo as coisas.” Defende rotatividade no poder. “Não sou esquerda nem direita. O PT já ficou dez anos. Pode até ganhar de novo. Mas sou contra essa ideia de que está todo mundo do mesmo lado, sabe? Senão temos o risco de virar uma Venezuela.”

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A participação de Lula e Fernando Haddad (PT-SP) no programa, a quatro meses do primeiro turno em 2012, rendeu multa de R$ 10 mil da Justiça Eleitoral, por propaganda antecipada. “Paguei. O Lula era meu convidado e me avisou dois dias antes: ‘Posso levar o Haddad?’. Como é que eu digo: ‘Não, não pode’? Na minha cabeça, não teria problema. Agora sei que não pode falar que é candidato.”

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Declara-se eleitor de Lula e Dilma, mas ainda não sabe em quem votar em 2014. Considera o julgamento do mensalão “correto” e diz que o Bolsa Família “já dá ao candidato do PT 40 milhões de votos, do povo pobre”. Descarta retornar à política. “Sou um bom apresentador. Mas fui um deputado medíocre. Se voltasse, seria um ditador. Ia brigar com metade do Brasil.”

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Aos 57 anos (“parece 40, né?”), Ratinho oscila entre o segundo e o terceiro lugar em audiência, com média de 7 pontos e picos de 10.

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No SBT, é sócio da atração. Gastos com produção e lucros com merchandising são divididos com Silvio Santos (“a melhor pessoa que tem no mundo”). Não revelam valores do contrato, que vai até 2015. Amanhã o canal fará programa especial para festejar 15 anos de Ratinho na casa. Ele, que ficou “chateado” por passar oito meses fora do ar, em 2006, hoje está feliz.

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O mesmo Carlos Massa que mexe os braços, fala alto e pontua frases com palavrões no camarim é o Ratinho que entra no palco e faz as 130 pessoas da plateia bater palmas e cantar. “O programa é um circo.” Divide a cena com pelo menos dez humoristas –um deles, Marquito, virou vereador em São Paulo, pelo PTB, com 22 mil votos.

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O programa, famoso por explorar barracos e bizarrices, agora tem quadros de comédia, concursos de talentos e jogos. “Meu público hoje é bem inteligente.” Aposentou o cassetete, mas não se arrepende do sensacionalismo. “Quem tem que dar cultura não é a TV, porra. É a escola!”

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Ele mantém o Teste de DNA –que é gravado para corte de palavrões e pancadaria entre participantes interessados em esclarecer casos de paternidade– porque ainda não encontrou “outra coisa que dê tanta audiência”. Ratinho intervém em momentos tensos. Um segurança já saiu da gravação com a orelha vermelha, após separar uma briga.

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Em sua defesa, o apresentador diz que os advogados do quadro ajudam as famílias. “Quando o camarada chega aqui, já brigou com todo mundo.” As noites de quarta são de encontros musicais. “Coloca aí: a Regina Casé me copiou”, ri, citando o dominical “Esquenta!”, da Globo. Diz que o canal concorrente acertou ao “bregar” em busca de audiência das classes C e D.

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No camarim com imagens de Nossa Senhora, o animador diz que é cedo para fazer cirurgia plástica. “Não sou vaidoso. Só passo uma tintinha no cabelo e no bigode. Já fiz um negócio de laser lá para tirar a papada.”

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É dono de cinco afiliadas do SBT no Paraná, rádios, fazenda e hotel. “Poderia fazer como o Faustão: pegar o dinheiro, pôr no banco e tocar a vida. Mas faço como o Silvio. Dou empregos, tento crescer. Não é só usufruir no Brasil, mas aplicar nele também.”

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Tem um avião para ir a Curitiba, onde a família mora, embora afirme levar uma vida simples. “Saí da pobreza, mas ela não saiu de mim.” Ao mesmo tempo que diz não ter nascido para o luxo, ele sabe como quer morrer. “Na TV. Fazendo palhaçada.”

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