18:58Minha vidinha de cachorro

de Jamil Snege

 

Este texto foi psicografado, por isto é importante que eu me indentifique logo como seu verdadeiro autor. Meu nome é Tarugo — e não me perguntem por que me botaram esse nome. Nós, cães, não costumamos contestar os nomes que recebemos. Puseram Tarugo, eu aceitei. Um nome é um nome, nada mais do que isso. Não faz a menor diferença. É apenas uma necessidade que os humanos têm de dar nomes às coisas, desde que começaram a falar. Substituir a coisa por um som — não é uma tolice? Nós, da comunidade canina, temos um método muito mais eficiente. Isto mesmo: uma cheiradinha. Um nome olfativo. Basta contornar o companheiro, chegar por trás e snif! — já identificamos o cara. Se os humanos fossem realmente espertos, usariam o mesmo método. Mas eles acham que não ficaria bem. Já imaginou — dizem eles — o governador receber a visita de um representante estrangeiro, contornar e…?
Tudo bem. Deixemos pra lá essa questão de nomes. O que me trouxe aqui, em espírito (vocês já devem ter notado que sou um cão falecido), é uma questão muito mais séria. Eu quero denunciar a tremenda injustiça que os humanos estão fazendo conosco. Se o cão é o melhor amigo do homem, a recíproca nunca foi tão falsa como agora. Vamos aos fatos. Vocês viram alguma notícia na imprensa de cães agredidos, feridos ou mortos por seres humanos? Nunca. Vocês vêem exatamente o contrário. Cães agredindo. Cães mordendo as canelas de velhinhas indefesas. Cães atacando garotinhos angelicais. Cães perversos. Feras assassinas pondo em risco a sobrevivência da humanidade.
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