13:0910h10

por Sérgio Brandão

 

Tirei o Technos do braço dele e coloquei na mesinha ao lado da cama.

Como sempre fazia quando deitado, colocava o braço esquerdo atrás, como apoio para a cabeça, quase na nuca, mesmo com travesseiro alto.

Assim que encostou o braço na cabeça sentiu a falta do relógio. Me olhou, mas como quem olha para um objeto, como também olhou para a mesinha ao lado e logo achando o velho Technos, resmungou, “ não lembro de ter tirado o relógio e de colocá-lo aqui”. Fez isso pegando o relógio e colocando de volta no pulso.

Assim como percebi que não devia ter tirado do pulso, também pensei que se aquilo tudo não fazia nem cinco minutos que tinha acontecido e, ter caído no esquecimento, ou achado que foi ele mesmo que tirou o relógio do pulso, percebi que as horas estavam mesmo sendo contadas.

28 horas depois, de volta sem o Technos no pulso, ai por uma questão de segurança, normas hospitalares, o relógio voltou para a mesinha. Ali já não percebia mais a falta do companheiro inseparável, ganho de um amigo, nem nas horas que passavam rapidamente ele percebia mais.

Como estes relógios de vitrine, o Technos parou às 10h10 min.

O coração um pouco antes. As duas baterias estavam com quase a mesma carga. Sempre achei 10 e 10 uma hora bonita. Nunca imaginei que a teria no Technos até hoje, agora guardado no estojo original.

Muitas horas, dias, meses e anos se passaram somando uma conta que não gosto muito de fazer.

A conta que queria mesmo fazer é a de hoje: 21 de Julho, quando o dono do Technos estaria completando 87 anos.

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