7:02À procura do frio

por Célio Heitor Guimarães

 

Estou na serra catarinense. Com bom lapeano (com e, como são os lapeanos do tempo do Cerco e do Gen. Carneiro), aprendi com os maragatos de Gumercindo Saraiva que inimigo se enfrenta no território dele. Em retribuição, nós, os paranaenses, ensinamos os gaúchos a sorverem o mate amargo do chimarrão (os interessados em conhecer a história devem recorrer ao livreto do nosso saudoso Arthur Tramujas Jr., promotor de Justiça e folclorista, editado pela Fundação Cultural de Curitiba, com o notável título “Passe a cuia, tchê!” (Edição LeiteQuente, junho/89).

 

Mas, voltando à serra catarinense, aqui vai indo tudo bem, embora o inimigo tenha andado um tanto arredio. Os pinheiros sobreviventes da sanha das madeireiras continuam altivos a mirar o horizonte. Não tem mais, é certo, a imponência e a envergadura de seus antepassados, que, depois de abatidos e transformados em toras, mediam deitados mais de dois metros de espessura. Mas ainda representam o mais garboso espécime da flora sul brasileira. A área remanescente de mata de araucárias não vai, hoje, além de 10% da área original. Foi substituída pelo pasto e pelo plantio de grãos – a mais recente praga nacional.

 

Quanto ao inimigo referido acima, tal qual a araucária angustifólia, não é mais aquele. A baixa temperatura histórica também foi afetada pelas mãos do homo sapiens, espécie civilizada, que, em nome do progresso, aniquilou Florestas, desviou ou assoreou rios, criou barragens e, com tudo isso, está matando o inverno. Ainda faz frio, mas nem de longe aquele da nossa infância, que congelava campos, lagos e o nariz da gente.

 

Este ano, aqui no planalto catarinense, o frio usou de uma estratégia diferente. Chegou cerimonioso, precedido por chuva rala, intermitente e desagradável, caída de um céu cinzento sem sol e sem lua. Depois, tentou atacar pelos  flancos da serra, mas nada que um bom agasalho de lã e um cachecol não desse um jeito. Recuou e escondeu-se na bruma e na garoa. Às vezes, dá sinal de vida, mas a aguardada neve talvez fique para 2014 – ano da Copa. Ou para o mês de setembro, assim que o inverno acabar. Sabe como é, em tempo de Dilma tudo é possível.

 

Aqui no meu refúgio, espero. Enquanto a picanha assa, peço mais uma taça de vinho. Tinto, seco e nacional. Da Casa Valduga, que nada fica a dever aos chilenos e argentinos, por supuesto.

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