6:44Guerreira

A Tereza Urban era guerreira incansável. Tão firme nos propósitos quanto doce na voz. Conheci-a ao desembarcar em Curitiba e na sucursal da Editora Abril, onde era repórter da Veja. Nunca perdeu guerras, apesar de os outros pensarem que a tinham derrotado. Se lutou contra a ditadura, sofreu, se exilou, e voltou ao país, essa desapareceu e os anos de chumbo ficaram como uma marca tenebrosa na história. Tereza pautou sua trajetória jornalística como humanista, por isso deve ter sofrido muito ao lidar com a política e o que acontece no dia-a-dia deste Brasil. Depois foi batalhar contra a devastação, os ataques ao meio ambiente, ou seja, a favor da preservação da vida. Nos encontramos e conversamos poucos nestes anos todos. Mas o que ela fazia sempre marcou presença, porque Tereza seguiu a rara trajetória dos que levam ao extremo suas convicções – e as delas eram positivas, coisa rara neste país sem convicção.

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2 ideias sobre “Guerreira

  1. lina faria

    Vale lembrar que ela foi uma das unicas pessoas, que eu sei, recusou junto ao irmão Toni, à indenização pelas mazelas da ditadura.

  2. Raul Urban

    Teresa, apesar do sobrenome idêntico, não é parente. Mas foi, como sou, jornalista. Falávamos esporadicamente, um com o outro. Havia em Teresa, simultaneamente, a quietude da voz que, mansa, de repente, eclodia para um patamar mais alto, revelando a Teresa Guerreira que soube enfrentar um Brasil conturbado de uma época e de que foi vítima. A “construtora ambiental” nos deixou um múltiplo legado. Especialista em erva-mate, belo dia conversamos longamente sobre essa riqueza quando – e isso foi por volta de 2003, 2004 -, eu iniciava um imenso e até agora não-concluído trabalho sobre o Mercado Municipal de Curitiba, acrescido da História da Alimentação, da Gastronomia e dos Segredos das Ervas e Especiarias. Coisa que hoje está por volta das 1.800 páginas, esperando editor. Teresa e João – quanto nos mostraram por intermédio das paisagens descritas e iconográficas, vindas seja das lentes dos óculos de uma Teresa aflita em apurar ao extremo o que buscava; seja das lentes de João, focadas no universo pleno e imenso de o que ambos planejavam. Sou do tempo em que por vezes nos encontrávamos – e isso faz tempo – no Sindicato dos Jornalistas, onde, cada qual a seu tempo, ocupou funções e conviveu com os tantos que somos e os tantos que nos deixam saudades e lembranças. Conheci a Teres Guerreira dos tempos da ditadura; mas conheci também a Teresa pesquisadora, curiosa, que se antecipava às coisas, que escrevia com “sabor”. Quantas vezes nos irmanamos – e lembro dela quando na “Voz do Paraná”, então sob a batuta de meu grande amigo Aroldo Murá! Não trabalhei lá, mas Aroldo, ironicamente, se formou em Jonrlaismo comigo, em 1970, na Católica, quando ele já era veterano no Diário do Paraná. Depois, Aroldo e eu batalhamos no “Indústria & Comércio”, vez ou outra recebendo a visita de uma Teresa que percorria as mesas para dar um abraço na Maí Nascimento Mendonça; no Chico Duarte; no Chico Lustosa e tantos outros. Fomos, todos nós, de um tempo. Que tenhamos tido a possibilidade de pasar nosso legado aos novos, para que novas Teresas surjam no horizonte da informação, da cordialidade e, acima de tudo, da ética. Vai em paz, amiga!

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