8:34Um Django no Palácio Iguaçu

Beto Richa começou a semana como um estadista, ao criticar abertamente a tentativa de manobra da presidente Dilma Rousseff em dividir o ônus do descontrole do país com os governadores. Agora, ainda no meio da semana, foi flagrado com sua caracterização de Django, o do primeiro filme, italiano (direção de Sergio Corbucci), a mesma que ostentou durante quase um mês quando era prefeito de Curitiba e seu chefe de gabinete, Ezequias Moreira, foi pego num esquema em que recebia dinheiro da Assembleia Legislativa através do emprego fantasma exercido pela própria sogra. Django, interpretado por Franco Nero, é o personagem que durante boa parte do filme puxa por uma corda um caixão enigmático sem se saber o que tem dentro. Faz isso a pé, sem o cavalo tradicional dos personagens de faroeste. Os repórteres Karlos Kholbach e Euclides Lucas Garcia, do jornal Gazeta do Povo, descobriram que Ezequias, funcionário graduado da Sanepar, foi nomeado secretário especial do Cerimonial do Governo do Estado no último dia 19 de junho. Richa resolveu puxar de novo o caixão enigmático pouco antes de o processo do “caso da sogra” ganhar mais um capítulo nos tribunais. O agora secretário especial já tinha sido condenado improbidade administrativa e devolvido o dinheiro, cerca de meio milhão de reais, aos cofres públicos. Estava marcada para amanhã,  na 5.ª Vara Criminal de Curitiba, a audiência de instrução para o processo onde ele é acusado do crime de desvio de dinheiro público. Estava. Com o novo cargo, o processo volta ao Tribunal de Justiça por causa do foro especial.  O governo informa que não há nada de irregular na nomeação. Verdade. Quando explodiu o caso, Richa disse que Ezequias era um amigo de confiança da família. Verdade. Depois, afirmou que ele pagou pelo que erro cometido. Verdade. Mas ainda não explicou porque, como Django, gosta de carregar esse peso – e a cada ato, como o de agora, alimenta a especulação sobre os motivos. Sabe-se que o que secretário do cerimonial nunca deixou de ser conselheiro político, apesar de ter saído visualmente da órbita do agora governador, depois de ter perdido o cargo poderoso e mais próximo do seu líder. Mas o que ainda não foi decifrado é porque Beto Richa se arrisca em ações como a de agora. Django, o do filme, carregava uma metralhadora giratória dentro do caixão, e ele só mostrou isso numa situação de risco onde dizimou os inimigos. No caso de Richa o caixão não foi aberto, mas ele continua carregando, apesar de levar tiro no pé.

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8 ideias sobre “Um Django no Palácio Iguaçu

  1. Antonio Ocampo

    ha muitas verdades, mas nem tudo que é legal é MORAL …. como esta ‘estória’ tem muitas outras…

  2. Quem?

    Quem ganhou o cargo na Sanepar, no lugar dele, o genro?
    Era de que lado da trincheira parlamentar?
    Simples – o fiscal de tributos estaduais Farah, ligadão no Francisquini.
    Não sobrevive a uma googlada no passado judicial.

  3. Diomar Campos

    Gostaria de saber pq so o referido senhor leva tungadas da GP, intere$$e$ obscuros dos cunha pereira?
    Há vários nomeados com problemas judiciais (até piores que esse, que ja pagou o que recebeu indevidamente) , mas estranhamente apenas esse caso é massacrado na midia…
    E os responsaveis pelos outros gafanhotos? A maioria ainda ocupa cargos publicos, mas nao vejo nenhuma linha escrita sobre esses…

  4. Mito

    Esse Beto Richa é mesmo uma decepção. A turma jogando pedra e ele erguendo vidraças cada vez mais “brilhantes”…

  5. Peter Zero

    Gostei da comparação. Creio que o caixão do Carlos Alberto carrega uma maldição, algo como um Prometeu acorrentado.

  6. Ivan Schmidt

    Pois é… antes tarde do que nunca! O garoto imberbe e deslumbrado que veio de Londrina na bagagem da família Richa, quando o patriarca assumiu o governo do Paraná, em 1983 e, que desde então jamais ficou sem receber salário de algum órgão público do Estado ou do município — gozando da prerrogativa de transferir para o nome da sogra a grana recebida (sem trabalhar) da Assembleia — afinal, abiscoita o cargo de secretário especial do governo do filhão… e para cuidar do Cerimonial e das Relações Internacionais, em que decerto se fará notar por sua notável sapiência de monoglota…
    Há um estória ótima sobre o indigitado e as funções que “exercia” no gabinete do paizão: certo dia, antes de reunião do secretariado, ou coisa do gênero, confessou aos primeiros que chegavam ao palácio: “O chefinho hoje tá de bom humor, pois ainda não me deu nenhum esporro!”. Pano lento…

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