13:10Sem lírios no campo

por Sandro Vaia*

 

Não confunda vândalos com indignados.

Eles podem até andar juntos mas não são unidos pelos mesmos ideais. Uns querem quebrar caixas eletrônicos, depredar ônibus e levar umas roupas ou umas tvs de plasma das lojas Marisa.

Outros querem paz e amor, ônibus mais baratos, estádios menos faraônicos, políticos menos corruptos e, por via das dúvidas, um mundo melhor – o que inclui educação, saúde e presumivelmente mais vergonha na cara.

Essa espécie de “primavera” sem bússola tem a pauta mais longa de todas as primaveras que vimos pela TV.

Os líbios queriam botar Kadafi pra fora, os sírios transformaram a oposição a Assad numa guerra civil, os egípcios queriam mais liberdade, os turcos menos autoritarismo, os gregos menos austeridade e os europeus mais empregos.

Os brasileiros começaram indignados com um aumento de 20 centavos no preço das passagens de transporte coletivo urbano e em dez dias foram daí para o infinito.

Os 20 centavos foram o estopim e não se pode dizer que o Movimento Passe Livre seja um anjo de candura e de inocência apolítica. Ele tem uma pauta claramente política que vai da catraca livre a uma proposta contra “latifúndios urbanos”que não tem pé nem cabeça.

A massa genericamente indignada com tudo, desde o superfaturamento dos estádios da Copa aos calamitosos serviços de saúde pública, se juntou ao movimento, de tal forma a acuar os governos e provocar um recuo no aumento das tarifas de transporte urbano.

Quinta-feira foi o dia de sair à rua para comemorar a vitória do movimento e os partidos políticos e as organizações sindicais que quiseram tirar uma casquinha desfraldando as suas bandeiras nas manifestações, foram escorraçados, demonstrando claramente que os elos entre a população e os meios convencionais de representação política estão irremediavelmente danificados.
A mídia, principalmente a eletrônica, festejou essa “linda manifestação democrática” como se fosse um baile junino, sem se dar conta da profundidade e da gravidade do verdadeiro significado da presença das marés humanas na rua.

Não foi apenas uma “semana de saco cheio”, como aquelas que os estudantes fazem nas faculdades, mas uma prova objetiva de que as instituições convencionais de representação política estão feridas de morte e não são mais capazes de mediar com eficácia as relações entre a sociedade e quem pretende representá-la.

A democracia brasileira refundada pela Constituição de 1986 foi maltratada pelos governos, pelos partidos e pelos políticos e seria demais esperar que fosse afagada e respeitada apenas pela população.

Seria ingênuo esperar que do pântano do rebaixamento ético-institucional a que o país vem sendo submetido nos últimos anos brotassem lírios do campo.
*Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: [email protected]

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2 ideias sobre “Sem lírios no campo

  1. João Cândido - O Mestre Sala dos Mares.

    Sandro Vaia é conhecido militante da ultra-direita paulista. São daqueles jornalistas que são mais realistas que o patrão. p.ex. quando o governo beneficia o pobre é populismo, quando beneficia os maganos empresários – de onde saem as suas fonte$$$ – é um governo desenvolvimentista.
    Agora seu ZB – apartidário de “mintirinha” – os meninos ingênuos do MPL descobriram que estão sendo usados, por isso a Dilma vai hoje se pronunciar para que esses meninos não abandonem o debate político e, que não sejam manipulados por esses facistóides da extrema-direita, quintas colunas, vendilhões da pátria…

    MPL anuncia que não convocará novos protestos em SP por causa de infiltração conservadora.

    O Movimento Passe Livre (MPL), que liderou sete protestos contra o reajuste da tarifa de transporte público em São Paulo desde o dia 6 de junho, não convocará novas manifestações na capital paulista, segundo anunciaram nesta sexta-feira (21) integrantes do MPL.

    A decidão se deveu à participação de ativistas de causas não apoiadas pelo grupo, como a criminalização do aborto e redução da maioridade penal.

    De acordo com o integrante do MPL Rafael Siqueira, o grupo não é contra a participação de partidos políticos.

    No entanto, nos últimos atos, o MPL considera que surgiram pessoas com objetivos conservadores, incompatíveis com o pensamento do Passe Livre, como representantes do neofascismo.

    Segundo Siqueira, o MPL em São Paulo deverá suspender todas as convocações para decidir o futuro de suas reivindicações.

    “A suspensão de novos atos é por dois motivos simples. A gente vai ter que analisar e fazer uma reflexão profunda com as pessoas que são aliadas da gente na luta contra o aumento de que atitude tomar. Nada é feito por acaso. A segunda coisa é que muita gente da direita, com pautas de que a gente discorda totalmente, está se aproveitando dos atos.”

    No protesto desta quinta-feira (20), manifestantes do PT foram hostilizados por participantes da passeata que não queriam a presença de partidos no ato.

    Em nota em sua página no Facebook, o Passe Livre, que afirma ser “um movimento social apartidário, mas não antipartidário”, repudiou os “atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação (de quinta), da mesma maneira que repudiamos a violência policial”.

    O texto ainda diz: “Desde os primeiros protestos, essas organizações tomaram parte na mobilização. Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos juntos.”

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