por Mauricio Gomm Santos
Depois de 8 anos em terras yankees, tenho aprendido os seus defeitos e virtudes, sobretudo se comparados aos do Brasil. E como é bom “aprender a apreender” diferenças entre pessoas e países. Estes, como aquelas, têm seus defeitos e qualidades. Como as pessoas, nenhum país é zero ou dez, em que pese vivermos cada vez mais sob o manto da bipolaridade coletiva. Basta algo sair como não havíamos planejado ou desejado que logo rebaixamos alguém ou o local ao rés do chão. Seja por consequência da velocidade da vida moderna ou da “influência” recebida de nossos filhos que – mimados pelos I-Phones – não admitem atrasos quando enviam emails ou text messages, o fato é que estamos todos mais impacientes. Nossa missão contra o mal humor e baixo astral é resgatar a flexibilidade, o “jogo de cintura” que tão bem nos faz.
Jean Paul Sartre costumava dizer que “os planos foram feitos para (não) serem cumpridos.” Quem já não enfrentou uma dessas? Portanto, se algo sair como não deveria ou não gostaríamos, que saibamos usar a criatividade para resolvê-lo da melhor forma possível. Alternativamente, que voltemos a exercitar a paciência se a solução soa-nos impossível ou inviável, naquele momento. Voltando aos países, muito se fala do Brasil por aqui, como o novo
oásis mundial. O Rio de Janeiro, apesar de ser a cidade maravilhosa, sabemos bem que têm muitas rugas e espinhas. São Paulo, com o rótulo de locomotiva do país, não raro sai do trilho. Esta semana que o diga! Curitiba, com toda a sua pompa de cidade cultural ou capital européia, tem enfrentado focos de violência afegãos. Todas as nossas belas cidades têm uma característica – mais ou menos acentuada no trânsito – de desrespeito, impaciência e crescente uso da buzina. Nos EUA, à exceção de NYC, tudo gira em torno do automóvel como fonte de locomoção. Taxi é exceção e ônibus, nem pensar. Quem já veio para os EUA sabe que não apenas é recomendável, mas necessário alugar um carro. Aliás, é tarefa muito fácil, em tempos de GPS em qualquer idioma, além da abissal quantidade de veículos (todos automáticos) para todos os bolsos. Portanto, todo mundo dirige, até crianças acima dos 15 anos. E neste contexto é que surge um antídoto interessante para a gincana darwiniana no trânsito: o do 4-way stop!
Não há nada mais civilizado na relação carro/carro, já que na relação carro/pedestre, este sempre tem preferência. O 4-way stop, como muitos sabem, existe em cruzamentos sem rua preferencial e sem semáforo. Todos que nele se aproximam são obrigados a parar e o primeiro a chegar tem preferência para reiniciar a aceleração. Todos esperam muito pouco ou ninguém espera quase nada. Os cruzamentos viram uma orquestra afinada. Embora quem desrespeitar a orquestra fica sujeito à pesada multa, o fato é que o 4-way stop oferece ainda (e principalmente) a sensação gostosa de darmos a vez ao outro que chegou na esquina no mesmo momento. Além de algo prazeirozo no individual, todos ganham no coletivo. Nosso astral parece se elevar, e, com ele, nosso dia. Quem já praticou sabe do que estou falando. Em suma, civilidade é respeito ao próximo através de ações e não de palavras. Como se diz por aqui, deeds are better than words.
O 4-way stop que o diga!
Nesta selva que estão se transformando as nossas cidades, onde até sinaleiros não se respeitam mais, cruzamentos sem preferencial são uma verdadeira disputa, quem tem o maior possante leva vantagem. Sempre.