5:44Comemoração, mas nem tanto

Da Gazeta do Povo, em reportagem de Yuri Al’hanati, Eloá Cruz e Agências de Notícias

 

Em meio a dilemas, PT comemora no Paraná os dez anos no poder

Celebração do “decênio que mudou o Brasil” vem em momento em que Dilma enfrenta crescimento baixo, inflação em alta e insatisfação na base

 
O PT trouxe ontem a Pinhais, na Grande Curitiba, suas duas maiores “estrelas” – a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula – para comemorar os dez anos do partido no comando do país, período batizado pelos petistas de “o decênio que mudou o Brasil”. Mas a festa, que reuniu a cúpula do partido e cerca de 1,5 mil militantes no Expotrade, veio em um momento em que o PT enfrenta dilemas do rumo que vai dar ao país, em especial na área econômica, mas também na condução política.

O PIB tem sido baixo – o crescimento de 0,9% da economia em 2012 contrariou as expectativas superotimistas do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O Planalto também tem de enfrentar a alta da inflação – sobretudo nos preços dos alimentos, algo que refletiu na queda na popularidade da presidente.

Tanto Dilma quanto Lula já afirmaram em diferentes ocasiões que o governo federal tem a inflação sob controle. Mas as medidas de incentivo ao consumo – como o recente crédito para a compra de móveis e eletrodomésticos aos beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo – dão sinais de que não dão mais o efeito desejado. Além disso, para conter a inflação, o Banco Central teve de elevar os juros, o que desestimula o consumo e, consquentemente, freia o crescimento.

Para completar, até mesmo antigos aliados políticos, de olho em voos mais altos, passaram a criticar o governo. “É preciso alavancar a formação bruta do capital, alavancar investimentos públicos e privados, intensificar exportações para isso melhorar a produtividade, investir em inovação”, afirmou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), possível candidato à Presidência de 2014. “O que acontece é que as políticas na direção do consumo terminam sendo mais rápidas; saem do papel com maior rapidez, quando o investimento, que é o que mais precisamos neste momento, é mais complicado”, disse ele.

No Congresso, Dilma também tem colhido dificuldades de onde menos esperava: de sua base aliada. A votação da MP dos Portos, feita no apagar das luzes e a recusa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de colocar em votação a medida provisória que iria garantir a redução da conta de luz são alguns exemplos da retaliação dos aliados insatisfeitos.

Otimismo

Mesmo com todas essas questões à frente, a postura de dois dos maiores representantes do PT é de otimismo. “Eu acho que a presidenta, depois de dois anos e meio, já sabe tranquilamente como cuidar da política”, declarou Lula em Brasília mês passado, referindo-se ao desgaste com a base aliada.

Dilma, por sua vez, comparou nesta semana seus oposicionistas ao Velho do Restelo, personagem tipicamente pessimista da epopeia Os Lusíadas, de Camões. “Muitos Velhos do Restelo apareceram nas margens das nossas praias. Hoje, o Velho do Restelo não pode, não deve e, eu asseguro para vocês, não terá a última palavra no Brasil.”

Em discurso, Lula e Dilma traçam estratégia para 2014

Da Redação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso na festa dos dez anos do PT na Presidência, deu o tom da estratégia eleitoral que o partido deve seguir em 2014. Ele lembrou aos petistas de que a oposição está “enfraquecida”. “Eles não têm programa. Eles não têm proposta.” Mas, ainda assim, Lula alertou os militantes de que a sociedade não é petista, indicando que uma expressiva parcela de eleitores ainda precisa ser conquistada para assegurar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. “Temos de catar aqueles que não estão do nosso lado.”

Lula também orientou a militância a confiar em Dilma, mesmo que possa parecer haver discordância dele próprio com a presidente em alguns assuntos. Afirmou que conhece Dilma há 8 anos e que confia plenamente nela. “Não há hipótese de haver divergência entre eu e ela. Se um dia tiver divergência, ela está certa e eu estou errado”, disse o ex-presidente.

Num momento em que há petistas falando em lançar Lula e não Dilma para o Planalto, em função da queda de popularidade da presidente, a declaração foi um sinal de que ela é que será a candidata. Aliás, o ex-presidente ontem já havia negado, no Rio Grande do Sul, que possa concorrer novamente à Presidência.

Dilma discursou logo depois de Lula. Seguiu na mesma linha do ex-presidente. Lembrou que foi vítima de preconceito da oposição: disse que chamaram-na de “poste” na última eleição presidencial e que ela foi alvo de boatos de que, por ser de esquerda, iria “radicalizar”. Mas destacou que, após assumir o governo, ajudou a manter a liberdade e fortalecer as instituições.

Esses argumentos embasaram a parte seguinte do discurso da presidente, usado para criticar aqueles que hoje apontam deficiências de seu governo. Lembrou que, no início do ano, tentou-se vender a ideia de que o país corria risco de racionamento – o que não ocorreu. “Nós não deixaremos ter racionamento como deixaram em 2000 e 2001.”

Dilma também defendeu o que classifica os sucessos da política econômica – que tem sido duramente criticada. “Se nós comparamos a dívida líquida com o PIB de qualquer outro país, o Brasil tem uma das menores dívidas líquidas. É o menor nível em todos esses dez anos.”

A presidente também procurou se defender dos problemas econômicos atuais atribuindo-os à crise internacional. “O início do meu governo coincidiu com uma crise econômica, uma crise grave, uma crise persistente. (…) O Brasil, nesse cenário de crise, não se acovardou. Nós decidimos enfrentar.” E disse que o PT acertou no enfrentamento da crise. “Nossa nossa estratégia foi correta. Nossa aposta no combate às desigualdades foi correta.” Citou os baixos níveis de desemprego como prova disso.

Dilma também disse que não irá comprometer o consumo das famílias para que o país possa promover investimentos. “Nós achamos absolutamente que não há oposição entre consumo e investimento.”

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Gleisi é chamada de “governadora”

A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) foi chamada de “governadora” em três oportunidades durante os discursos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gleisi é cotada como pré-canditada ao governo do Paraná em 2014 depois de ter sido eleita senadora em 2010 pelo estado.

Todas as vezes que um deles citava Gleisi a plateia, formada por cerca de 1,5 mil pessoas filiadas ao PT, entoava a ovação. “É vocês que estão dizendo”, esquivou-se Lula durante o discurso para não ferir a Lei Eleitoral, que proíbe pedir votos para alguém antes do período de eleição.

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Fruet encontra Dilma em aeroporto

O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, divulgou nesta noite de quinta-feira (13) em seu Twitter que encontrou com a presidente Dilma Rousseff e com ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Fruet afirmou que conversou sobre transporte coletivo e habitação com a presidente, em favor de Curitiba.

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Em Pinhais, Dilma classifica crise de “grave e persistente

A análise é diferente do que o próprio Lula havia dito, chamando a desacelareção da economia global de “marolinha”

A presidente Dilma Rousseff, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu a política econômica do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) na noite desta quinta-feira (13) em Pinhais, cidade da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os dois participaram do seminário “O Decênio que Mudou o Brasil”, no Expotrade, para comemorar os dez anos do partido na Presidência da República. Durante o discurso, a presidente classificou a crise econômica mundial de “grave e persistente”. A análise é diferente do que o próprio Lula havia dito, chamando a desacelareção da economia global de “marolinha”.

“O meu governo coincidiu com uma crise econômica, uma crise grave, uma crise persistente. O Brasil, nesse cenário de crise, não se acovardou. Nós decidimos enfrentar”, ressatou Dilma ao destacar as medidas tomadas para combater a recessão: incentivo ao consumo e aos investimentos. “Nós achamos que não há, absolutamente, oposição entre consumo e investimento. Nós temos que fazer as duas coisas. Por isso, o Brasil vem apresentando um cenário muito diferente das nações em crise.”

Ainda sobre a economia, Dilma afirmou que o Brasil tem uma das menores dívidas líquidas, se comparada ao Produto Interno Bruto (PIB) e reafirmou o compromisso de controle da inflação. “Não vamos deixar a inflação ficar fora de controle, que apostar nisso vai perder feio”, disse. Dilma Rousseff e Lula chegaram ao seminário por volta das 20 horas e foram recebidos com entusiasmo pelo público formado por cerca de 1,5 mil militantes do partido. Dilma lembrou que foi chamada de “poste” na última eleição presidencial e de uma mulher nascida na esquerda iria radicalizar. “O Brasil respira liberdade e as instituições se fortaleceram.” A presidente criticou a oposição, que ela chamou de alarmista.

No palco, ficou visível a diferença de popularidade entre Lula e Dilma. Enquanto ele foi fortemente aplaudido pela plateia e caminhou pela área do palanque enquanto discursava, ela preferiu usar o púlpito. Parte do público começou a ir embora logo após o discurso de Lula e não esperou para ouvir a presidente.

O ex-presidente afirmou que o atual momento do PT é de construir solidez para a base do partido visando as próximas eleições. “A sociedade não é petista, é heterogênea. Temos que catar aqueles que não estão do nosso lado”, afirmou o ex-presidente. Ele citou a trajetória de vida, a militãncia no partido e o sindicalismo. Lula ainda foi gentil com a atual presidente. “Eu conheci a Dilma há oito anos e sei da lealdade, sei do compromisso que ela tem com esse país”. Com relação a possíveis desentendimentos com a presidente, Lula relatou ao público que não há hipótese de haver divergências entre ele e Dilma. “Se um dia a gente divergir, ela vai estar certa e eu vou estar errado”, brincou o ex-presidente.

O ex-presidente declarou ainda que o Brasil é um dos países do mundo que mais investe em infraestrutura. “Poucos países do mundo, talvez só a China, têm investido em infraestrutura como o Brasil”. O ex-presidente citou os programas de licitações de portos e aeroportos lançados recentemente pela sua sucessora e os investimentos previstos pela Petrobras no pré-sal. Para a plateia de petistas, Lula declarou que “nenhum país do mundo tem uma perspectiva de futuro como o Brasil”. Para ele, nenhuma nação está gerando a quantidade de empregos que o Brasil vem gerando. “Eu jamais imaginei estar vivo para vivenciar o Brasil com uma taxa de desemprego de 5,5% ao ano.”

Lula alfineta oposição

O ex-presidente aproveitou a ocasião para criticar a oposição, que, segundo ele, está enfraquecida e reclama da inflação sem razão. “Hoje (a inflação) é 5,8% ao ano. A ‘deles’ chegou em 70% ao mês. Quando eu ganhei a Presidência era 14%”, afirmou. O patamar de até 80% ao mês de inflação foi atingido durante o governo Collor, que atualmente é senador e aliado da presidente Dilma. No discurso, Lula disse discordar da avaliação da oposição sobre a economia. “Eu gostaria de saber, qual é a preocupação e a desconfiança que eles têm da economia brasileira? Qual é o problema que eles têm?”, provocou.

Lula também criticou as agências de classificação de risco, dizendo que parecem avaliar “risco de especulação”. “Nós temos gente no governo que tem competência para tomar as decisões corretas”, afirmou. Ele ainda citou o recém-lançado Programa Minha Casa Melhor, que prevê financiamento para móveis e eletrodomésticos, afirmando que não entende a preocupação dos adversários. “Quem incomoda eles? Será que é financiar geladeira móvel, fogão? O que eles querem?”, indagou.

Evento

Participam da mesa do evento o ministro das Comunicações Paulo Bernardo; o vice-presidente de Agronegócios e Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil, Osmar Dias; o conselheiro de Itaipu Orlando Pessuti; líder do MST, Roberto Baggio; a deputada estadual Luciana Rafagnin; o prefeito de Pinhais, Luizão Goularte; o diretor da Itaipu, Jorge Samek; o deputado federal André Vargas; o presidente do PT no Paraná, Enio Verri; além de Lula e Dilma Rousseff.

De acordo com informações da assessoria do PT do Paraná, o tema Ciência e Tecnologia foi debatido com representantes da Fundação Perseu Abramo, ligada a legenda.

O evento também contou com a participação de Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e de Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.

Seminário em Curitiba

A capital paranaense é a quinta cidade a receber o seminário, que passou por São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Porto Alegre. Ao todo, serão 10 eventos realizados em todas as regiões do país. Os próximos locais a receber o evento não foram confirmadas pela assessoria do partido.

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Dificuldades

Rebelião continua e governo sofre novas derrotas no Congresso

A presidente Dilma Rousseff teve ontem mais um dia difícil no Congresso Nacional, dando sequência à rebelião formada na base aliada nas últimas semanas. Na Comissão Especial da Câmara que analisa a chamada PEC do Orçamento Impositivo, foi protocolada uma proposta que obriga o governo a pagar as emendas individuais dos parlamentares que forem apresentadas para ações prioritárias.

A proposta é do deputado Edio Lopes (PMDB-RR), relator da comissão, que também incluiu no texto a obrigação de quitar em até três anos os “restos a pagar”. Se aprovada hoje, o governo teria de desembolsar no primeiro ano R$ 9,6 bilhões, 40% dos R$ 24 bilhões existentes em restos a pagar de emendas individuais.

Outra má notícia para o governo foi a aprovação do pedido de convocação dos ministros Antônio Patriota (Relações Exteriores) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado. A decisão foi tomada depois que Patriota e Pimentel nem sequer responderam ao pedido de convite aprovado pela comissão em 21 de maio.

Das agências

Declarações

Antes de vir a Curitiba, o ex-presidente Lula participou de um fórum internacional de prefeitos em Canoas (RS). Em entrevista, abordou diversos assuntos.

Eleição

De forma sucinta, Lula garantiu que não pretende tomar o lugar da presidente Dilma Rousseff nas eleições do ano que vem. O petista disse estar otimista com os rumos da economia do país e, em seguida, indagado se esse otimismo o anima a voltar à Presidência, respondeu: “Não”.

Economia

Lula disse que a presidente Dilma “jamais” permitiria a volta da inflação e que há uma boa perspectiva para o futuro com a retomada da economia americana. “Não é por causa de um sobressalto ou outro na economia que a gente pode achar que o Brasil vai sair do caminho do crescimento, da geração de emprego e da geração de renda. Se eu era otimista na Presidência, estou otimista fora.”

Ministérios

O ex-presidente defendeu a expansão no número de ministérios e disse que pastas com muitas atribuições acabam não cuidando bem de nada. “Por que posso ter um Ministério da Indústria e não ter um Ministério da Mulher? Por que posso ter um Ministério do Exército e não posso ter um Ministério do Negro? Por que não posso fazer com que a sociedade seja representada em sua condição de gênero, de cor, de raça, dentro do governo?”

 

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2 ideias sobre “Comemoração, mas nem tanto

  1. Mr.Scrooge

    O maior problema do populismo é a falta de coerência em suas politicas, um dia é uma coisa, noutro é outra e assim vai, de experimentação em experimentação, sempre na base da tentativa e erro. E sempre governando com base no Ibope. A presidente não corre perigo nenhum na sua reeleição. Ela não será reeleita só se der muita mancada, mancadas que o Beto está teimando em dar.

  2. Fausto Thomaz

    Eu espero que ela de muita mancada, assim nos livramos desses ImcomPTentes de uma vez por todas.

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