10:20Ruy Castro e o Farrapo Humano

Muito bom a reportagem de Sandro Moser sobre os dois ensaios que colocam um pouco de luz nas trevas do problema da relação entre o alcoolismo e a criação. Coincidência ou não, nesta semana o jornalista e escritor Ruy Castro esteve em Curitiba para falar sobre alcoolismo no trabalho num seminário promovido pelo Sesi. Castro parou de beber há 25 anos. Talentoso ao extremo, já era conhecido no Brasil, mas sua carreira decolou mesmo depois disso, principalmente com as biografias de Nelson Rodrigues e Garrincha, sem falar nos livros sobre a Bossa Nova. Ele é direto ao falar da relação do álcool com a criatividade. Citou uma vez o grande filme de Billy Wilder sobre o problema. Em Farrapo Humano (1945), o escritor, interpretado magistralmente por Ray Milland, acha bebe porque não consegue escrever. A verdade é o inverso disso. Ponto. Dentro de uma clínica de dependentes é muito comum se ouvir o discurso daqueles que têm talento e um pouco de informação cultural que juntam o lé do talento com o cré do uso das drogas para qualquer tipo de criação – como se isso fosse verdade absoluta. Para estes, o signatário apenas lembra a quantidade de artistas que morreram e que poderiam ainda estar iluminando este mundo sombrio, mas se afundaram. Para ficar apenas no exemplo do álcool, um bêbado não tem condições “mecânicas” de escrever uma palavra, quanto mais uma linha, uma página, um livro. É um pensamento simplista, sim, mas é o que acontece. A experiência da drogadição pode ser muito útil, sim, quando se tem o controle sobre ela, ou seja, quando não se droga e começa a enxergar tudo com um pouco mais de clareza. Quem sofre com isso e depois puxa o freio de mão no descontrole tem a grande vantagem de poder comparar. Aí o talento natural se desenvolve. Mesmo porque o “treino” diário é possível, ou seja, a parte do suor, fundamental para a inspiração.

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2 ideias sobre “Ruy Castro e o Farrapo Humano

  1. Magister

    Muito bom esse texto! Como um certo conhecimento da causa posso dizer que a experiencia com droga, em um primeiro momento, tem um certa ampliação consciência, ou ainda, uma abertura de novos horizontes. Mas a partir do momento que o uso passa ser rotineiro, servindo apanas para anestesiar as dores do mundo, o usuário acaba caindo numa vala comum e perdendo-se no nada.

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