12:06A reconstrução é possível?

Por Ivan Schmidt

 

O PMDB paranaense está buscando formas de sobreviver por mais um tempo, mirando o horizonte da eleição para o governo estadual em 2014. Na segunda e terceira eleição de Roberto Requião em 2002 e 2006, o partido contou com o apoio do PT, mas esta probabilidade não está plenamente consolidadas mesmo considerando a nova roupagem petista e a aclamada candidatura da ministra Gleisi Hoffmann.

 

Os papeis, portanto, estariam invertidos (perdão pela má palavra), passando o PDMB de apoiado a apoiador da ministra, embora o prognóstico esteja cada vez mais difícil a julgar pela animosidade recente entre os dois partidos. Por exemplo, não há clima propício para a confluência do senador Roberto Requião com o ministro Paulo Bernardo e, por consequência, com a ministra Gleisi Hoffmann.

 

As diatribes de Requião resultaram num processo por calúnia e difamação ganho pelo ministro, com a engorda do não pequeno passivo que o ex-governador acabou contabilizando por conta de decisões judiciais. Certo dia o próprio comentou numa roda da Boca Maldita que o total devido supera os R$ 400 mil.

 

Mesmo assim, conquanto impedimentos de ordem ética sejam absolutamente arcaicos na política brasileira desde o apoio de Paulo Maluf à candidatura do petista Fernando Haddad para a prefeitura paulistana, com direito a fotografias no jardim da mansão do apoiador, não haveria propriamente nenhuma surpresa se PMDB e PT voltassem a caminhar juntos na próxima eleição para o governo.

 

Aliás, tal possibilidade se tornou inteiramente viável quando o diretório regional passou a ser controlado pelo ex-governador Orlando Pessuti, responsável pela indicação do suplente de Gleisi na chapa para o Senado, Sérgio Souza, atualmente ocupando a vaga da senadora licenciada e, diga-se de passagem, com excelente atuação.

 

Pessuti trabalha para manter em alto nível a interlocução com o PT e repete a dose no relacionamento com a direção nacional do PMDB, cultivando um bom diálogo com o vice-presidente Michel Temer e o presidente em exercício do partido, senador Valdir Raupp. E navega com vento de popa com a presidente Dilma Rousseff que o indicou para um dos conselhos de Itaipu Binacional.

 

O obstáculo aparente está nas intenções reveladas pelo deputado licenciado do cargo e secretário estadual Luis Cláudio Romanelli (Trabalho), principal articulador da célula pró-Beto Richa, que a certa altura passou a divergir da orientação política do ex-governador (de quem era chegado), opondo-se à eventualidade propalada na época da indicação do senador para a presidência do diretório regional do PMDB.

 

Na verdade, a infiltração de Romanelli no governo Beto Richa, além de dar sustança à tese da ala peemedebista fascinada pelo exercício de um naco do poder, também autoriza pensar que no embate eleitoral de 2014 uma tendência majoritária do partido-ônibus, alocaria definitivamente o PMDB no condomínio político gerenciado pelo governador Beto Richa.

 

Entretanto, há muitos que preferem alimentar uma versão bem mais prosaica, qual seja a da reserva de um espaço na gestão pública para abrigar os quadros sempre indicados pelo governador Roberto Requião, para funções de certa importância em seus dois últimos mandatos, que ficaram a ver navios quando o ex-governador se afastou para disputar a vaga no Senado. Afinal não há cargos para todos num gabinete parlamentar.

 

Caso alguém tenha acesso ao rol de servidores alocados na Secretaria do Trabalho certamente vai constatar a enorme quantidade de assessores do governo anterior, que graças à política rasteira praticada não apenas na taba araucariana toda vez que muda o cacique, entram sem piedade no inventário do material inservível. Assim, muito mais que um lance estratégico brilhante, a manobra pode se resumir numa tática de sobrevivência e manutenção dos salários.

 

Há algum tempo era comum esse troca-troca de servidores da administração direta com instâncias do Estado, especialmente a Assembleia Legislativa e o Tribunal de Contas, sendo o expediente aplicado livremente por quaisquer ocupantes do poder.

 

Voltando à realidade vivida pelo PMDB, percebe-se que atualmente se discute a sucessão do diretório da capital, do qual se tenta espancar a sombra de Requião. Na perspectiva de médio prazo da direção estadual (a eleição de 2014) é altamente significativo o controle desse diretório, porque daí poderia emergir um novo alento pela candidatura própria em substituição ao apoio hipotético à candidatura da ministra Gleisi Hoffmann. Nada está decidido, mas a dobradinha PT-PMDB não seria corpo estranho numa possível aliança local, apesar das rusgas cada vez mais acentuadas entre ambos os partidos na esfera federal. Se o clima atual ainda não chega a ser briga de foice no escuro, também não é uma tertúlia para exaltar a sublimidade da poesia parnasiana.

 

A situação interna do PMDB paranaense não é das melhores e o grupo ainda se ressente do desgaste sofrido nos últimos anos, mesmo quando Requião era o governador. Faz tempo que o partido perdeu a aura de protagonista da política estadual, tornando bastante difícil a fase de reconstrução confiada ao deputado Osmar Serraglio, que ainda não deu publicidade ao planejamento de recrutar e preparar as lideranças que darão suporte aos próximos compromissos eleitorais da agremiação.

 

Aristóteles, que tornou conhecido o pensamento de Platão, ensinou que toda a atividade humana é suscetível à politização, ao mesmo tempo em que, sabiamente, indicasse que a política não é suscetível a todos os atos humanos. Parece ser esse o dilema contemporâneo da nau um dia capitaneada pelo grande Ulysses Guimarães.

 

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Uma ideia sobre “A reconstrução é possível?

  1. Mr.Scrooge

    Se o velho de guerra nativo quiser sobreviver ele precisa da candidatura do velho senador. Hoje o partido pisa em duas canoas, a do Beto e a da Dilma, amanha só sobrara uma, assim o partido tem que optar. E a melhor saída é ter candidato próprio. O partido vive há muito tempo na sombra dos outros. Agora é tudo ou nada.

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