9:44Amarra e leva

De novo essa conversa mole sobre internação compulsória. Agora o Ministério Público do Paraná entrou no jogo para cobrar. Em brasileiro a explicação sobre o assunto é o seguinte: quem vê um filho, parente, amigo, se matando com qualquer droga, do álcool ao crack, passando pela cocaína e todos os outros tipos que causam dependência, não vai lá perguntar para o chapado se ele quer ou não. Quando um doente está sem o efeito do uso também vai dizer não. É isso que acontece. Ponto. Uma tentativa de se salvar aquela vida é levá-lo contra a vontade para uma clínica especializada. Amarrado, se for o caso. O problema que o Ministério Público do Paraná teria de entrar de sola é outro: cadê as vagas para internamento? Não existem. Recentemente o signatário participou de um palestra na OAB e havia ali uma promotora que cuida dessa área. Ela disse que o Sistema Único de Saúde dispõe de pouco mais de 600 vagas para início de tratamento. Quantas pessoas, numa cidade como Curitiba, estão morrendo sem que os mais próximos saibam o que fazer, onde fazer, como fazer? A ignorância sobre o assunto é total por falta de campanhas. A ignorância é maior por parte das autoridades porque tratam o assunto sem conhecimento de causa, distante da realidade, para variar. Mas se uma família tem dinheiro, pode sim pagar diárias de até R$ 500,00 em clínicas particulares. Clínica não é tenda de milagres onde um dependente entra por uma porta e sai, tempos depois, “curado”. Não existe cura nessa doença. Existe controle. E esse começa a acontecer quando o paciente se dá conta do quanto é importante ouvir, principalmente a si mesmo. Tratamento é terapia. A drogadição é sintoma de doença emocional. Ponto. Medo de se olhar é uma das características do dependente. O internamento, como foi dito, por enquanto é o caminho que dá a maior possibilidade de se “cair a ficha”, como se fala dentro das clínicas. Nas particulares, pode-se levar o paciente contra a vontade dele, mesmo porque ele não tem vontade, apenas a de tomar mais uma dose. Mas nestes locais, procurando, há vagas. Para a ninguenzada não há vagas e os sábios ainda discutem se podem levar ou não uma pessoa que está morrendo contra a vontade dela. Chega a ser patético, mas é muito triste.

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Uma ideia sobre “Amarra e leva

  1. Gerson Guelmann zs

    Bela contribuição ao debate. Coloquei no meu twitter:
    @gguelmann: Amarra e leva – texto sobre internação compulsória publicado pelo @z_beto que conhece assunto de dentro e de fora: http://t.co/SNDMUAbnvC

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