7:42Quanto mais estatística melhor

Blogs do Além – Billy Wilder

 

por Vitor Knijnik

 

 

Minha carreira é repleta de prêmios. Pertenço a um seleto grupo de sete diretores que ganharam o Oscar de melhor filme, roteiro e direção pela mesma película. Mas a maior honra de minha vida, mais do que qualquer estatueta, foi ter sido citado duas vezes nas palavras cruzadas do New York Times. Isso demonstra o meu profundo apreço por tudo aquilo que é popular.

Por isso, li com grande interesse um artigo sobre Vinny Bruzzese, um ex-professor de estatística que criou uma empresa chamada Worldwide

Motion

Picture Group. Sua companhia oferece serviços de análise de roteiro aos grandes estúdios. O apelo central para os clientes é reduzir ao máximo os riscos de uma produção naufragar no teste com o público. Essa talvez não seja uma boa imagem. O naufrágio de um grande navio rendeu uma das maiores bilheterias da história do cinema. Mas você entendeu do que se trata.

O método da WMPG é composto de várias técnicas. Entre elas, há o recurso de confrontar o roteiro em questão com um imenso banco de dados, onde já estão computados milhares de filmes, entre sucessos e fracassos, do mesmo gênero. Esse banco, utilizando os princípios da estatística, aponta o que funciona ou não em um script. Segundo os discos rígidos da WMPG, filmes com cenas de boliche tendem a fracassar nas bilheterias e, portanto, devem ser evitadas. O Grande Lebowski dos irmãos Coen, por exemplo, filme hoje cultuado e que não vendeu muitos ingressos, não passaria por esse escrutínio. Outra recomendação dos processadores da empresa de Bruzzese diz respeito aos filmes de terror. Munido de porcentagens, o estatístico afirma: “Demônios em filmes de horror podem atacar pessoas ou ser invocados. Se for um demônio que ataca, provavelmente teremos vendas muito mais altas num fim de semana de estreia do que se ele for invocado”.

Fui um profissional que, para fazer minhas avaliações, recorria à minha experiência e sensibilidade.É bem conhecida uma citação em que digo “confie no seu instinto. Seu erro pode ser seu, em vezde ser o erro de outra pessoa”. Por outro lado, também sempre procurei sucesso de público.Por isso, antes de rejeitar por completo essas novas ferramentas de criar e avaliar roteiros, eu me pusa imaginar que mudanças os chips e os dados sugeririam para alguns de meus mais famosos filmes. Vejam o meu pequeno exercício.

Quanto Mais Quente Melhor. Na versão original, os personagens de Jack Lemmon e Tony Curtis, para escapar da perseguição de gângsteres, disfarçam-se de mulher. Nada mais lógico se esses disfarces evoluíssem para vestimentas de super-heróis. E assim a dupla voltaria para acabar com os fora da lei e, de quebra, salvar o mundo. O título poderia compilar todos os elementos destinados ao sucesso: Quanto mais vingadores quentes e furiosos melhor.

Se Meu Apartamento Falasse. Na nova versão o apartamento falaria mesmo com o C.C. Baxter, personagem protagonista da história. Naturalmente, a recomendação seria realizar o filme em animação no estilo Pixar/DreamWorks para ter alguma chance com o público adulto.

Crepúsculo dos Deuses. A sugestão aqui seria aproveitar o fato de o personagem principal e narrador do filme já estar morto e o transformar em vampiro. A série Crepúsculo, assim, ganharia mais um episódio.

Não sei se gostei do resultado. Mas acredito que, se qualquer um desses remakes fosse lançado com grande campanha publicitária e ocupasse metade das salas de cinema do planeta, seria um grande sucesso de bilheteria.

Sobre mim

Não falarei muito de mim. Defendo que o bom diretor de cinema é como um juiz de futebol. Quando ele faz bem o seu serviço, ninguém o nota.

Sobre o blog

Numa plateia, cada um é um idiota. Mas, juntos, todos são um gênio. Pena que aqui os comentários sejam individualizados.

 

*Publicado na revista CartaCapital

 

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