10:27Uma mentira engole a outra, que engole a outra…

por Ricardo Noblat

 

O que foi que na semana passada a ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, atribuiu à central de notícias da oposição?
O que Dilma, por sua vez, chamou de “desumano e criminoso”?
Lula, de ação praticada por “gente do mal”?
José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, de “manobra orquestrada”?
E Ruy Falcão, presidente nacional do PT, de “terrorismo eleitoral”?
No sábado 18, e no dia seguinte em 13 estados, um milhão de clientes do programa Bolsa Família invadiu agências lotéricas para sacar suas mesadas fora do dia marcado. Boatos davam conta de que o programa seria extinto ou suspenso. Ou que Dilma autorizara o pagamento de um bônus.
Houve quebra-quebra. A polícia foi acionada.

A ministra Maria do Rosário corrigiu-se poucas horas depois de ter pendurado na conta da oposição as consequências dos boatos. Qualificou de “singela” sua própria opinião – não mais do que “singela”. E garantiu com a inocência que Deus lhe deu: “Não quero politizar”.
Ora, ora, ora…
Quem por meio de uma “manobra orquestrada” poderia fazer “terrorismo eleitoral”? Aliados do governo? Claro que não.
Uma vez politizado o episódio, politizado está. Só que aos poucos ameaça se voltar contra o governo. Na melhor das hipóteses teria sido um caso de má gestão polvilhado com mentiras.
Entre as tardes do sábado e do domingo, quando pessoas em desespero se empurraram e depredaram agências lotéricas na caça ao tesouro do Bolsa Família, dois gerentes regionais da Caixa Econômica sugeriram que um erro do sistema de pagamento seria o responsável pela liberação do dinheiro em desacordo com o calendário do programa. Um deles, Hélio Duranti, do Maranhão, foi preciso.

“Os boatos surgiram após um atraso no pagamento do benefício ocorrido em todo o país. A situação foi normalizada, mas muita gente procurou os caixas eletrônicos ao mesmo tempo e o dinheiro acabou”, disse ele. “Quem não encontrou ficou revoltado e quebrou os caixas”.
A ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, preferiu observar: “Não existe qualquer motivação para que a gente pudesse gerar esse tipo de intranquilidade para a população”.
Será?
A direção da Caixa Econômica atravessou a semana negando que tivesse mexido no calendário de pagamento. Até que na última sexta-feira, a Folha de S. Paulo encontrou em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, a dona de casa Diana dos Santos, 34 anos. Na sexta anterior ela fora a um caixa eletrônico sacar os R$ 32,00 do Bolsa Família referentes a abril. Ao inserir seu cartão, sacou os R$ 32,00 de abril e os R$ 32,00 de maio.
“Recebo o Bolsa Família há anos e nunca pagaram antecipadamente”, comentou Diana. “Acho que outras pessoas receberam também, avisaram aos conhecidos e virou essa confusão”.
A Caixa inventou então outra história depois que se desmanchou no ar a história que ela vinha contando. Soltou uma nota dizendo:
– A Caixa Econômica esclarece que vem realizando, desde março, diversas melhorias no Cadastro de Informações Sociais. Em consequência desse procedimento, na sexta-feira (17), primeiro dia do calendário de pagamentos de benefícios do Bolsa Família do mês de maio, o banco disponibilizou o saque independentemente do calendário individual.


O pagamento é feito levando-se em conta o último número do cartão magnético de cada bolsista. A Caixa liberou o dinheiro para pagar de vez a todo mundo, mas não avisou a ninguém. De resto, não explicou como uma operação dessa natureza pode melhorar seu Cadastro de Informações Sociais.
É razoável desconfiar que a Caixa mentiu outra vez.
Para mudar o sistema de pagamento do Bolsa Família permitindo saques em outras datas, o Conselho Deliberativo da Caixa teria de ser obrigatoriamente consultado – e não foi, segundo me contou um dos seus membros. Ou informado – e também não foi.
A Caixa esconde que houve uma falha no sistema, o que tornou possíveis os pagamentos fora de hora.
No dia em que a Folha pegou a mentira da Caixa, uma fonte da Polícia Federal, mediante a garantia prévia de anonimato, revelou ao O Globo em Brasília que fora localizada no Rio de Janeiro a central de telemarketing responsável pela difusão dos boatos.
Não disse o nome da central. Nem do seu proprietário. Não disse quem a contratou. Nem como a central teve acesso aos números de telefones de inscritos no Bolsa Família.
Sem acesso aos números de telefones como a central poderia disseminar boatos?

 

 

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2 ideias sobre “Uma mentira engole a outra, que engole a outra…

  1. Mr.Scrooge

    A PF já sabe até de onde saiu o boato do fim da esmola, e não tomou providencias ainda? E por quê? Será que tem algum caroço debaixo deste angu? As desculpas da Caixa já não convencem mais ninguém, em quem confiar agora? A mentira corre solta em Pindorama.

  2. Josafá Civita da Cunha Pereira

    A Mídia Bandida agora tenta reverter o crime hediondo praticado contra os pobres,
    redirecionando a notícia contra a Caixa Econômica (CEF) e o Governo Federal.

    Na verdade, quando souberam que a CEF iria antecipar o pagamento do Bolsa-Família,
    espalharam criminosamente o boato do cancelamento do programa social do Governo,
    antes que a Caixa anunciasse a liberação antecipada do dinheiro aos beneficiários,
    para evitar que Dilma pudesse extrair do fato eventual vantagem eleitoral futura.

    Tudo articulado com o discurso de Aécio Neves no sábado (18/5), quando assumiu a presidência do PSDB,
    e com uma matéria publicada sobre o tema, no mesmo dia, no jornal Folha de S.Paulo.

    A programação e o disparo realizado pela empresa de telemarketing deve ter ocorrido dias antes,
    pois o efeito de um boato, por via telefônica, não ocorre instantaneamente.

    Além disso, houve e continua havendo a nítida tentativa de desacreditar a administração dos recursos do Bolsa-Família.

    Nem a Camorra ou a Cosa Nostra imaginaria em realizar uma orquestração desse porte,
    com o objetivo de eliminar um inimigo dos clãs das famíglias da Máfia Italiana.
    .
    .
    Agora, observe-se o que anda elucubrando o historiador/especialista (SIC)

    da Rede Globo de Televisão, da Revista Veja e de outros veículos patrocinados pelos Governos:

    Bolsa Família, os boatos e os saques.

    Artigo [SIC] de Marco Villa em maio 25, 2013

    Segundo a Folha de S. Paulo de hoje, a CEF liberou o pagamento de todos os benefícios, mais de 2 bilhões de reais!!!, no dia anterior aos boatos.

    Tudo continua muito estranho.
    Por que antecipar os pagamentos?
    Houve alguma ação orquestrada entre a antecipação dos pagamentos e os boatos?

    Uma empresa de telemarketing seria a responsável pela mobilização de milhares de pessoas?
    Se for, precisamos saber o nome e contratar seus serviços para mobilizar a população!!

    A história ainda não bate.
    Na sexta a CEF libera antecipadamente os pagamentos de bilhões de reais (não custa recordar que para efetuar os saques de um valor total tão alto é necessário uma complexa logística).
    No sábado começam os boatos (que se espalham por todo o país em horas – caso único na história do Brasil).
    E na segunda a presidente chama os boateiros de “desumanos” e Lula de “gente do mal”.
    Dilma surge como justiceira e insinua que os “pessimistas” é que seriam os responsáveis pelos boatos (teve também, no sábado, a declaração de uma desconhecida ministra de alguma coisa acusando a oposição pelos boatos).
    E a oposição, fez algo?
    Ao menos, protestou? Buscou investigar?
    Ou teve medo?

    [Recuso-me terminantemente a postar o link para o lixo]
    .
    .
    Post Scriptum:

    Note-se aí, também, o uso da estratégia retórica para retirar dos partidos de oposição (PSDB/DEM/MD-PPS) o provável envolvimento no ato criminoso articulado.
    .

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