17:10Aos opacos

de Jamil Snege

 

Deixem-me arder
Deixem-me queimar as asas
nesse vela,
nesse sol, nesse leiser que envenena
as couves embrutedidas
pela treva.
Deixem-me arder.
Se ofendo sua lógica,
sua prosódias, seus anéis
de sempre elegante curvatura,
esmaguem minha musculatura
e os ossos que a sustêm.
Mas me deixem arder
Deixem-me arder de infinito
nesse iníquo delíquio
de existir.
E se os ofendo,
soprem minhas cinzas,
derramem minha lixívia,
mas me deixem auferir
as estrelas como o úmero roto
açoita o músculo que seu vôo
desencanta.
Deixem-me luzir
definhar meu luminoso espanto
onde só lhes é permitido
sobraçar espasmos
e guarda-chuvas.
E seu eu venha a ferir,
opacos, o lusco-fusco
de seus baços,
o hálito de hortaliças,
o bolor de queijo
que amadurece em seus
atrios
abasteçam-me de mil insultos
Mas me deixem incender.

Compartilhe

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.