7:25Vida a Rubem Alves!

por Célio Heitor Guimarães 

 

Rubem Alves vai bem, obrigado. Amigos e alguns dos meus 12 leitores neste blog têm me interpelado sobre a saúde do nosso querido filósofo, mestre, escritor, poeta e contador de histórias. Ouviram boatos, preocuparam-se e pedem informações.

 

Dou-as com satisfação. Até onde sei, Rubem vai bem. Enfrentou e continua enfrentando, com a coragem e o otimismo de sempre, alguns problemas de saúde. Hoje, luta contra o mal de Parkinson (*). Mas, como é um bravo, ama como poucos a vida e tem o carinho e a torcida de todos nós, os seus leitores, fãs e discípulos, haverá de vencê-lo. O raciocínio e a inteligência continuam a mil. Pode até ter alguma dificuldade em expressá-los, mas é coisa de pouca expressão. E haverá de passar.

 

Recentemente, Rubem foi objeto de um documentário da TV Câmara – “Rubem Alves, Professor de Espantos” (**) –, com roteiro e direção de Dulce Queiroz, e andou concedendo entrevista à revista Exame. Com o talento de sempre, falou sobre a educação e sobre a vida, dois dos seus temas favoritos.

 

E não teve acanhamento em falar na doença. O entrevistador quis saber se ele aprendera alguma coisa com os problemas de saúde. Na resposta, foi o Rubem de sempre:

 

– Algumas pessoas acreditam que todas as coisas têm um propósito, como se Deus estivesse regendo este mundo aqui. Eu não acredito nisso. Se acreditasse, odiaria Deus. Pois as desgraças que acontecem são de tal ordem, que eu perguntaria: “Deus, onde estás?” E diria a Ele, caso esse Deus existisse: “Eu não acredito em Ti, que pena… Se Tu existisses mesmo, isso não aconteceria”. Então eu amo um Deus que não existe. (risos)

O repórter insistiu, indagando se as doenças não poderiam nos tornar mais humanos. E Rubem:

 

– Ou mais raivosos. Não quero aprender nenhuma lição dessa forma, por meio das doenças. De jeito nenhum. Para quê? O que vou fazer com isso?

 

Mas também posso lhe dizer que com elas eu me tornei extremamente mais sensível às pessoas que sofrem. Por exemplo, tenho um amigo de 60 anos,  escritor, bonito, que sofreu um derrame. Ele está deitado na cama, não consegue falar, mas está lúcido. Então ligo para ele, peço que a esposa dele segure o fone e converso sem parar. Ele só escuta ou dá risadas. Com as doenças, comecei a prestar muito mais atenção no sofrimento dos outros.

 

Esse é o nosso Rubem Alves. Que Deus – aquele em quem diz não mais acreditar – dê-lhe força, paz e vida longa. Afinal, ele é apenas um menino de 79 anos.

 

(*) Doença do cérebro que provoca tremores e dificuldades para caminhar e coordenar-se. 

(**) Encontrável na internet, que recomendo com entusiasmo ao leitor, que se for atento, constatará, como fiz eu com enorme alegria, na estante à direita do escritório da casa de Rubem, a presença de um livreto intitulado “Como diz Rubem Alves”, de autoria deste modesto escriba.

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