7:42Maiores que a vida

por Ruy Castro

 

Ray Harryhausen, mestre dos efeitos especiais no cinema, morreu na semana passada, aos 92. Os obituários o chamaram de bruxo da animação “stop-motion” –aquela em que miniaturas são fotografadas quadro a quadro, sofrendo mínimas alterações entre uma foto e outra, e a projeção contínua produz a ilusão de movimento.

O inventor dessa técnica não foi Harryhausen, mas Willis O’Brien, animador de “King Kong” (1933) e de quem ele se tornou assistente em “O Monstro do Mundo Proibido” (1949), outro belo filme de macaco. Como O’Brien, Harryhausen punha suas miniaturas –dragões, sereias, medusas, ciclopes, os fabulosos esqueletos e toda a família dos dino, bronto e tiranossauros– interagindo com os atores, em filmes como “A 20 Milhões de Milhas da Terra” (1957), “Simbad e a Princesa” (1958) e “Jasão e o Velo de Ouro” (1963), para delírio dos garotos e desprezo dos críticos.

Os críticos estavam certos. O cinema era muito sério naquela época para que se conciliasse a admiração pelos diretores que estavam fazendo os grandes filmes, como Visconti, Preminger e Kazan, com qualquer interesse por um especialista em animar bicharocos. Eles nem sequer enxergavam Harryhausen.

Pois aconteceu que, com a submissão dos filmes aos efeitos especiais a partir de “Guerra nas Estrelas”, descobriu-se que, com suas técnicas primitivas, feitas a mão, Ray Harryhausen foi o grande inspirador de George Lucas, Steven Spielberg, James Cameron e outros que tomaram o cinema e o tornaram impróprio para maiores de 13 anos. Ray, claro, não teve culpa.

Em 2006, visitei uma exposição de Harryhausen no Filmmuseum, de Berlim. Lá estavam, ao vivo, seus monstros em miniatura. Nenhum media mais que um palmo. No cinemascope dos anos 50 e aos nossos olhos, eles eram maiores que a vida.

*Publicado na Folha de São Paulo

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