6:39Carmine Infantino foi em paz

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Carmine Infantino 7

Flash e Carmine Infantino

por Célio Heitor Guimarães

Ainda vale o registro, especialmente para os velhos leitores de gibis: Carmine Infantino, um dos responsáveis pelo renascimento dos super-heróis de papel, faleceu no dia 4 de abril, em Nova York, EUA. Tinha 87 anos.

Filho de pais italianos, Carmine nascera no Brooklyn, NY, a 24 de maio de 1925. Seu pai era originalmente músico, tocava saxofone, clarinete e violino, mas com a crise econômica de 29, virou encanador. Sua mãe emigrou de Calitri, uma colina de Nápoles, Itália. Eram muito pobres, mas fizeram questão de dar uma boa educação ao filho, ainda que em escolas públicas. O menino já demonstrava grande habilidade para o desenho. Tanto que, no primeiro ano do ensino médio, quis deixar a escola para trabalhar na editora Timely Comics, precursora da Marvel Comics. A ideia foi barrada pelo pai:

– De jeito nenhum! – determinou Pasquale Infantino. “Primeiro você vai terminar a escola. E se for realmente bom, o trabalho virá mais tarde”.

Dito e feito. Mas o começo não foi fácil. O jovem Carmine perambulou por algumas editoras, atuando como “freelancer”, até chegar na DC de Superman. Ali, o seu primeiro trabalho foi para a revista Flash Comics, de agosto de 1947, em uma aventura de Johnny Thunder (Johnny Trovoada no Brasil) em que nasce a personagem Canário Negro.

Na época, os super-heróis estavam em declínio e Carmine dedicou-se às histórias de faroeste e de ficção científica. Até que, em 1956, o então editor da DC, Julius Schwartz, pediu a Robert Kanigher e a Infantino a criação de uma nova versão de Flash, com o objetivo de marcar a volta dos super-heróis à popularidade. Foi o início da chamada Era de Prata dos comics.

Em 1964, Schwartz encarregou Infantino e John Broome da reformulação da revista do Batman. O Cavaleiro das Trevas ganhou, então, um novo visual, destacando o símbolo do morcego em um oval amarelo no peito do herói. Em seguida, Carmine passou a fazer a ilustração das capas de todas as revistas da DC, por determinação do presidente executivo da editora. Uma honra que poucos tiveram.

Foi quando Stan Lee tentou levar o artista para a Marvel, com uma proposta de 22 mil dólares. Não podendo cobrir a oferta, a DC ofereceu a ele a direção editorial da empresa. E Carmine Infantino revolucionou o mundo dos super- heróis, promovendo Joe Orlando, Joe Kubert e Mike Sekowsky a editores e contratando novos talentos como Dick Giordano, Denny O’Neil e Neal Adams, responsáveis pela revitalização de vários títulos da DC (então National Periodical Publications). Conseguiu levar também para a DC Jack Kirby, outra lenda dos quadrinhos, então na Marvel.

Mas sempre manteve bom relacionamento com Lee e com a Marvel. Tanto é que foi nesse período (1976) que saiu o primeiro “crossover” entre personagens das duas editoras: o inédito encontro de Superman (da DC) e Homem-Aranha (da Marvel) em uma mesma aventura, publicada no Brasil primeiro pela Ebal e depois pela Abril.

Como desenhista e dono de um traço personalíssimo e refinado, Carmine Infantino criou ainda, além de Canário Negro, Batgirl (com Gardner Fox), O Desafiador (com Arnold Drake) e Homem Animal (com Dave Wood), mas
ilustrou histórias de praticamente todos os personagens da DC Comics, desde Superman, Batman e Flash à Liga da Justiça da América, Lanterna Verde, Supergirl, Arqueiro Verde, Mulher-Maravilha e Adam Strange (de Mistério no Espaço).

Durante a década de 90, Infantino lecionou na Escola de Artes Visuais, em Nova York. E um pouco antes de se aposentar, fez alguns trabalhos para a Marvel, desenhando aventuras da Mulher-Aranha, de Nova e da série Star
War.

Em 2004, o veterano artista processou, sem sucesso, a DC Comics e o grupo Time Warner, alegando não lhe estarem dando crédito por inúmeros personagens que teria criado para a editora, quando “freelancer”, como Wally
West, Iris West, Capitão Frio, Mestre dos Espelhos, Capitão Bumerangue, além de Homem-Elástico e Batgirl. E editora contestou afirmando que tais personagens teriam sido criados, na verdade, pelos editores e roteiristas das
histórias, tendo cabido a Carmine apenas a criação gráfica.

Não obstante, Dan DiDio, um dos atuais editores da DC Entertainment, lamentou a morte de Infantino.

– Poucas pessoas tiveram tanto impacto sobre a indústria dos quadrinhos quanto Carmine – expressou o editor, aduzindo: “Ele foi a ponte entre as Eras de Ouro e de Prata dos comics, tendo participado de períodos de
maior sucesso de nossa empresa e definido a trajetória de vários de nossos personagens, algumas delas seguidas até hoje. Fará muita falta, mas seu legado permanecerá para sempre”.

Carmine Infantino recebeu vários prêmios durante a sua longa carreira, tendo ingressado no Hall da Fama do Comic Book em 2000. Em uma de suas últimas entrevistas, no entanto, para Gary Groth, do jornal Comics, fez questão de dividir o sucesso com “todos aqueles artistas maravilhosos, escritores, editores e desenhistas com quem trabalhei. Eram pessoas brilhantes e criativas, que fizeram da minha vida uma alegria”.

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