7:50Nuca suada

“Um boteco só merece nota 10 se uma morena bonita olhar de forma desafiadora enquanto abre um grampo nos dentes para afastar o cabelo da nuca suada”. Se esta poesia em forma de frase tocar seu coração, te transportar para o cinema real, te passar cheiro, som de conversas, o trânsito lá fora, a ampola sendo aberta, um Cristo crucificado entre garrafas empoeiradas, o avental sujo do portuga, coração dilacerado, coração alegre, amigo é para essas coisas, todo governo é uma merda, palavrões sagrados, bife a cavalo e a sobremesa, e de repetente o leque estala, e vamos por lá, porque a zorra é assim mesmo, é preciso conhecê-la por fora e por dentro, para ser equilibrista e bêbado, para se entorpecer e não morrer, para olhar pelo buraco da fechadura, para ver todos os ladrões, enganadores nus, mesmo que eles não liguem, se esta poesia te fizer sair por aí comendo poeira da estrada, possar por Ouro Preto com escala  emVila Isabel e na Tijuca, te fizer olhar a foto de quem disse, a foto de ontem, na Ilustríssima, desse ilustríssimo senhor que, médico psiquiatra, desistiu da profissão no meio dos loucos para olhar a loucura de fora do hospício, e nos transmitir algumas coisas, assim, como aquela que fala do band-aid no calcanhar, e nos faz sentir tudo, com direito a enxergar o ambiente, e aí voltamos para a foto, dele se olhando no espelho, sem cor, com cor, barba e cabelos brancos, porque nunca mudou, porque não precisa, porque é Aldir Blanc, do livro que vai sair, dos livros que já pariu, das crônicas, das letras, Aldir usina que dificilmente sai de casa, mas não precisa, porque já viu e, abençoado pelo deus brasileiro, jogou pra dentro do liquidificador e transformou em poesia, como a frase que é – mas só para quem é.

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