9:50Pauladas no Paulo

Paulo Bernardo é personagem da reportagem de capa da revista CartaCapital. O título diz tudo: “O Ministro do Plim Plim e do Trim Trim”.  A explicação da traulitada: “quer entregar às teles um patrimônio bilionário da União. E barra a regulação da mídia, para alegria dos oligopólios e na contramão do mundo democrático”. Bernardo não toma mel, come abelha. Sua mulher, Gleisi Hoffmann, é ministra da Casa Civil e potencial candidata ao governo do Paraná, ou seja, petista com chance de disputar e levar – o que para o governo federal é pule de dez. O ministro não defenderia seus projetos se não tivesse o apoio de quem manda, ou seja, da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, de quem também foi ministro. Os tiros que está recebendo demonstram o descontentamento de uma ala do PT que acha que tais atitudes são iguais ao que rotulou-se de privataria tucana, ou seja, a privatização das teles do governo FHC, cujas negociações nos bastidores deixaram um rastro que cheira mal até hoje. Como Bernardo vai reagir, só ele sabe. Isso é política. Confiram trecho da reportagem da revista:

O ministro dos meios de comunicação

Quem alimentava esperanças de assistir no Brasil a uma discussão séria e fundamentada sobre a atualização das leis de comunicação pode desistir. O último projeto elaborado pelo governo, obra do ex-secretário Franklin Martins ainda no governo Lula, foi enterrado oficialmente pelo atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Em entrevista recente a O Estado de S. Paulo, Bernardo não deixou dúvidas: o governo Dilma não está disposto a bancar a regulamentação da mídia nem a considera necessária. “Temos de discutir menos apaixonadamente essa questão da mídia. Entendo que a democracia brasileira pressupõe mídia livre e liberdade de expressão. Não queremos mudar isso”, afirmou o ministro, numa platitude bem ao gosto dos donos dos meios de comunicação, embora desprovida de qualquer conteúdo. O ministro não é bobo e deveria saber: quem normalmente alerta para os efeitos deletérios do oligopólio midiático existente no País deseja mais e não menos liberdade. E não somente liberdade concentrada nas mãos de uns poucos.

O sistema de regulação no Brasil, cuja principal regra, a lei de radiodifusão, foi criada nos anos 1960, estimula a lei da selva, em que prevalece a vontade dos mais fortes. Contém vícios do passado e não resolve impasses do presente. Não há impedimento à propriedade cruzada, o que estimula os monopólios, licenças são negociadas ao arrepio da Constituição, o que explica o aumento do proselitismo religioso eletrônico, e políticos permanecem livres para ser donos ou sócios de emissoras de rádio e tevê, uma afronta ao jogo democrático. Fora isso, as mudanças tecnológicas em curso, com o crescimento da internet e a convergência (hoje se pode ler um texto jornalístico ou assistir à tevê no celular e no computador) exigem por si só uma rediscussão dos marcos regulatórios do -setor. Nada disso tem a ver com censura, ao contrário do discurso conservador e conveniente a quem opera sem nenhum freio.

Essas constatações tão simples parecem insuficientes para comover Bernardo. E dá-se assim, por meio de suas mãos, uma morte semelhante, por asfixia, do debate igualmente enterrado no governo Fernando Henrique Cardoso, que chegou a preparar em vão três marcos regulatórios do setor.

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2 ideias sobre “Pauladas no Paulo

  1. carlosrochapedra

    FALAR EM CHEIRAR MAL TUDO QUE ACONTECE NESSE GOVERNO CHEIRA MAL OU SEJA SAI RATO POR TODO LADO.

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