8:42Tudo começou com um homem crucificado

O sudário, no negativo registrado por Secondo Pia

por Célio Heitor Guimarães

Há um homem pregado na cruz. E o sofrimento dele ainda dói (ou deveria doer) em nós, dois mil anos depois. Jesus é o nome dele, filho do carpinteiro José e da dona de casa Maria. É um homem alto, forte, de pele morena e olhar perturbador. Seu crime foi peregrinar pelos campos, pelas montanhas, pelas cidades e pelo deserto pregando o amor e a verdade. Não queria o poder, já que – dizia – o seu reino não era deste mundo. Mas isso assustava o gentio e a gentalha. Pôncio Pilatos, procurador de Roma em Jerusalém, pessoalmente, sentia respeito por aquele peregrino. Não lhe via culpa. Propôs, inclusive, libertá-lo, em comemoração à Páscoa, como era costume. A patuleia protestou. Preferiu a liberdade do ladrão Barrabás e exigiu a crucificação de Jesus.

Antes disso, ele foi açoitado com cem chicotadas de correias de couro, em cujas pontas pendiam pares de bolas de chumbo. Em seguida, colocou-se sobre a sua cabeça uma coroa de espinhos em forma de gancho e sobre seus ombros e nuca uma viga de cerca de 60 quilos e quase 1,70m de extensão, o chamado patibulum, com os quais foi obrigado a caminhar até o lugar da execução – o monte Gólgota, a 300 metros de Jerusalém.

Ali, Jesus foi colocado sobre o patibulum e o carrasco cravou um prego de cerca de 12 cm em cada um dos punhos do condenado. Em seguida, o patibulum foi fixado sobre um pontalete já preso ao solo. E chegou a hora de pregar os pés do homem de Nazaré. O pé esquerdo foi postado sobre o pé direito e um longo cravo afixado sobre ambos.

Da boca do nazareno não se ouviu um único protesto e nenhuma blasfêmia contra seus algozes. Apenas uma breve e sofrida súplica:

– Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem!

Há quem diga que Jesus, o Cristo, não passa de uma lenda. Pode ser. Embora a mensagem pregada por Ele continue presente mais de dois mil anos depois.

Outra lenda conta que após a sua morte, Jesus foi retirado da cruz, lavado pela mãe Maria, por Maria Madalena, que fora sua mulher, e por outros devotos e transportado para uma caverna nas proximidades, que lhe serviria de sepultura. Seu corpo teria sido envolto, como era tradição na época, por um pano de linho de aproximadamente 4,5 m de cumprimento por 1,1m de largura.

Com o desaparecimento do corpo, ou ressurreição como prega o cristianismo, três dias depois, a peça de linho também sumiu. E dela só se teve notícia no ano de 1354, quando foi entregue a uma igreja da cidade francesa de Lirey pelo conde Geoffroi de Charnay. Em 1535, depois de haver escapado de um incêndio, o sudário foi, enfim, transferido para a Itália, onde se encontra exposto até hoje na Catedral de São João Batista, em Turim.

Ao longo dos séculos, a peça vem suscitando calorosos debates sobre a sua autenticidade, envolvendo estudiosos e cientistas. O curioso é que a própria Igreja Católica até hoje ainda não assumiu oficialmente essa autenticidade, ainda que mantenha a relíquia guardada a sete chaves, recusando-se, inclusive, a permitir novos testes periciais.

Tampouco explica o ocorrido quando o fotógrafo amador Secondo Pia foi autorizado, em 1898, a fotografar a relíquia, a título de registro. Tudo teria sido normal não fosse o fato, surpreendente, de os negativos das chapas, ao invés de um simples conjunto de áreas claras e escuras, haverem revelado uma figura corpórea que emergia do fundo, lembrando um corpo humano real, em sua parte frontal e posterior. Isto é, uma imagem tridimensional do corpo de um homem, cuja altura estima-se em 1,81m, tendo o rosto bem demarcado, com os olhos fechados, e o corpo esticado, com as mãos cruzadas sobre o ventre, e marcas nítidas de ferimentos na cabeça, no peito, nos punhos e nos pés.

Mais uma fraude medieval? Embora muitos afirmem que sim, a coisa não é tão simples assim. Aos interessados, recomenda-se a leitura de “O Sinal” (Editora Paralela, divisão da Editora Schwarcz , 2012), do jovem historiador inglês Thomas de Wasselow. Caminhando, durante dois anos, atrás da verdade sobre o chamado Santo Sudário, ele acabou oferecendo uma nova versão sobre a própria origem do cristianismo.

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2 ideias sobre “Tudo começou com um homem crucificado

  1. Parreiras Rodrigues

    E é mentira que a voz do povo é a voz de Deus.

    A condenação Dele desmente o dito.

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