7:34Em nome de Helena

por Sergio Brandão

Quem me conhece sabe o quanto gosto de me manter no anonimato, sem alarde,  o mínimo de barulho possível, sem exposição, sempre que possível. Quanto menos chamar atenção, melhor.

Você que me conhece não é capaz de me imaginar entrando numa sala de aula dando pulinhos, imitando um coelhinho, diante de uma plateia de crianças, rindo das minhas micagens. Imagino que as crianças pensam, que estranho aquele tio, pai da Helena. Sou eu, todo desajeitado, imitando um coelhinho.  Você também não é capaz de me imaginar na mesma sala voando com uma vassoura para brincar de bruxa com as crianças, ou me imaginar parado no meio da sala, com todas as crianças sentadas, ouvindo eu gritar “sim salabim”. Tenho pago este mico, sim.

Helena minha maior provação de tudo nos últimos três anos. A derradeira (espero). Depois de tudo, ela, a que veio para mudar ou destravar a máquina que já começava a ter suas engrenagens comprometidas. Fui obrigado a procurar uma retífica, recauchutei o motor e de meia sola lá vou eu, entre gritinhos e saltinhos, buscar minha linda Helena na escola.

A professora Sílvia parece que sabe das travas que ainda restam nesta alma e já aprendeu que para não me constranger, fica atrás, como quem não está vendo. Mas eu também já aprendi. Próximo de datas especiais, dia da criança, dia do índio, Páscoa, serei mais uma vez colocado à prova e ainda travado, divertir as crianças.

Descobri que tem pai que não topa a brincadeira. Hoje um deles ainda chamou a atenção da professora com cara de “onde já sei viu, imagine eu, um senhor de terno e gravata,me sujeitar a estes papéis ridículos”!

Na verdade não tem uma data especial. Toda semana tem uma brincadeira.

O motor meia sola, ainda precisa ser amaciado, precisa de mais rodagem para azeitar a máquina toda, mas de saltinhos e gritinhos, de mico em mico, lá vou eu.

Nunca, nem com o meu melhor humor, poderia imaginar que agora, aos 56 anos, apareceria alguém capaz de me virar do avesso. Um mérito  tenho. Se é para pagar mico, então que seja um grande mico. Os gritos são dados com toda a força que tenho no pulmão. Os saltinhos também não são pela metade. A mãozinha vai em posição de patinha de coelhinho e tudo mais. A Helena se diverte. Quando sabe que o pai é convocado é a primeira a se levantar e com o olhinho arregalado espera pelo meu melhor. Faço o que posso. Ainda não decepcionei. Não vou decepcionar, você minha filha!

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