6:31Joaquim é o nosso Francisco

por Célio Heitor Guimarães

O eminente ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, está novamente na crista da onda. Desta feita, em julgamento no CNJ, criticou duramente a ligação entre juízes e advogados, nominando-a de “conluio” e creditando a essa amizade a origem da corrupção que permeia a magistratura. E sentenciou, do alto de sua cátedra: “Há muitos [juízes] para colocar para fora”.

Excelência, vem cá. Desculpe a intimidade de um simples cidadão, mas desça aí da altura e entre neste puxadinho para outro dedo de prosa. Abanque- se aqui mesmo na cozinha, que é o local onde em nossas terras (a minha, paranaense, e a vossa, mineira) se recebe as visitas amigas. Já pus a água para um cafezinho de coador. Enquanto ela esquenta, escute-me:

Ministro, ô ministro! Como é que V. Exª. diz essas coisas?! E, ainda por cima, em público! É claro que V. Exª. está coberto de razão. Sabe o que diz e fala a verdade. Mas há verdades que não se pode dizer, excelência!

Todo mundo esclarecido, que tem alguma relação com a justiça e com os chamados operadores do direito, sabe disso. Só não tem autoridade para dizê-lo. V. Exª. tem. Não apenas como a mais alta patente da hierarquia judiciária brasileira, mas também pelo vosso passado de vida e pela vossa recente atuação como magistrado.

Só que a verdade dói, excelência. Sobretudo, neste bendito país da impunidade e do corporativismo. Prepare-se que aí vem bala (se já não veio). Associações representativas de juízes e a própria OAB já estão com suas miras voltadas para V. Exª. Os disparos são iminentes.

O pensamento reinante nas classes envolvidas é aquele exposto pelo vosso debatedor no CNJ, o insigne desembargador Tourinho Neto: “Não será porque bebi cerveja e uísque com advogados que eu comprometerei as minhas decisões como juiz”. Nós até poderíamos dizer que o doutor Tourinho é um ingênuo, mas isso ele certamente não é. Tanto que critica abertamente o “excesso de zelo” de juízes que, para evitar denúncias de favorecimento, instalam câmeras nos gabinetes e atendem os advogados das partes ao mesmo tempo. A propósito, não é assim que acontece na justiça norte- americana?

O desembargador Tourinho e seus pares de igual pensamento devem ser também ferrenhos defensores de convescotes de magistrados, em spas e hotéis estrelados, com o patrocínio de empresas privadas, a maioria das quais atoladas em processos no Judiciário. Ué, e o que tem isso? “Elas pagam as minhas despesas e as de minha família, dão-nos mimos e presentes, mas eu mantenho incólume a minha imparcialidade e isenção na aplicação da lei”. Se assim fosse, ficaria pior a emenda do que o soneto.

Tive um colega de faculdade que, quando juiz de direito, mantinha uma vida monástica. Até porque juiz tem (ou devia ter) muito de padre. Na comarca, era de casa para o fórum e do fórum para casa. Um dia, foi convidado por um serventuário para uma festinha de aniversário na chácara dele. Agradeceu o convite, desejou felicidades ao aniversariante, mas pediu desculpas por não comparecer. Achava que não era certo. Tornou-se um sujeito arrogante, metido a besta e outros adjetivos menos dignificantes aos olhos dos jurisdicionados.

Ministro Joaquim, vosso cargo tem muita semelhança com o do sumo pontífice, e V. Exª. tem uma missão parecida com a de Francisco, o atual papa. Ambos estão imbuídos da tarefa de faxina. S. Santidade da limpeza da Igreja Católica e V. Exª. da do Judiciário brasileiro.

Ainda que tenham a ajuda de Deus, não será coisa fácil. Diria, até, impossível. Mas valem as tentativas. Delas pode resultar algo positivo.

No entanto, Francisco e Joaquim correm riscos. Esse negócio de faxina às vezes é coisa perigosa.

Agora que o café está pronto, excelência, sirva-se de uma fatia de bolo de fubá. Foi feito com carinho. E tenha mais paciência com os jornalistas. Eles apenas divulgam o que acontece. E são curiosos por natureza.

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4 ideias sobre “Joaquim é o nosso Francisco

  1. Parreiras Rodrigues

    Caríssimo CHG: Você acaba de tirar da minha boca, essas palavras que eu não saberia ordená-las para construir um texto tão bem acabado, completo, incisivo e sobretudo, verdadeiro.
    Onde assino?

    Em 1969, lá na minha Santa Isabel do Ivai – o maior produtor de abacaxi* do Sul brasileiro -fui chefe de gabinete do saudoso prefeito Marcos Vellozo, filho do desembargador Athos Velllozo, também finado.

    Quando aparecia algum treiteiro para audiência, Marquinhos sempre chamava alguém, eu mais à mão, para ficar ali dentro do gabinete, mexendo nalgum papel, sabe, prá não dar nem chance pro cara formular o chuncho.

    E sem direito a cafèzinho.

    *e doce.

  2. Célio Heitor Guimarães

    Correção do autor: onde se lê “cooperativismo”, leia-se, por favor, “corporativismo”.

  3. Palhares

    Eu só queria entender como um assalariado que ganha seus 20/25 mil reais liquido por mês: têm carro importado/ele, ela e filhos; moram em condomínios fechados de alto luxo; têm casa na praia ou apartamento em praias supervalorizadas; têm lancha; têm um staff de empregos domésticos…será o o dinheiro deles são do sexo feminino – procriar – e o meu é do sexo masculino, ou eu sou incompetente??????????

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