16:15A Esquerda Deixou de Ser Esquerda

A direita nunca deixou de ser direita, mas a esquerda deixou de ser esquerda. A explicação pode parecer simplista, mas é a única que contempla todos os aspectos da questão. Para serem participantes mais ou menos tolerados nos jogos do poder, os partidos de esquerda correram todos para o centro, onde, infalivelmente, se encontraram com uma direita política e económica já instalada que não tinha necessidade de se camuflar de centro. Entrou-se, então, na farsa carnavalesca de denominações caricaturais com as de centro-esquerda ou centro-direita. Assim está Portugal, a Itália, a Europa. (José Saramago, em entrevista ao jornal La República em 2007)

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5 ideias sobre “A Esquerda Deixou de Ser Esquerda

  1. afonso

    caso não tenha lido, recomendo ao blogueiro e também a todos seus leitores a leitura de “O jogo da Direita”, de René Dreifuss…livro de seminal importância para o entendimento do jogo político armado pela direita na campanha presidenciável de 1989…e o mais interessante e visualizar os personagens da direta e da esquerda à época agora, passados 14 anos….

  2. Palhares

    É difícil….

    Fábula de Cynara Menezes, Esopo e Monteiro Lobato:

    Dilma, o menino e a mulinha

    Não sei se vocês conhecem uma fábula de Esopo que se chama “O velho, o menino e a mulinha” –também aparece com o nome de “O velho, o garoto e o burro” em algumas versões. Eu li com este título, quando era criança, na coleção de Monteiro Lobato, volume “Fábulas”. E nunca esqueci.

    Para quem não conhece, trata-se da história de um homem que vai vender uma mula no mercado e sai puxando o animal pelo cabresto, ao lado do filho, quando se depara com um viajante:

    – Esta é boa! O animal vazio e o pobre velho a pé!

    Para “tapar a boca do mundo”, o velho sobe na mula e manda o menino puxar os dois, até que passam por uma turma de lavadeiras:

    – Que graça! O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre menino a pé…

    Para “tapar a boca do mundo”, sobem ambos na mula. Um carteiro que o trio cruza pelo caminho dispara:

    –Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez… Assim, meu velho, quem chega à cidade não é mais a mulinha, é a sombra da mulinha…

    O velho apeia e, para “tapar a boca do mundo”, sai puxando o animal com o menino em cima.

    –Bom dia príncipe!, diz um sujeito.

    –Por que príncipe?, pergunta o menino.

    –Ora, porque só príncipes andam assim, de lacaio à rédea!

    Mais uma vez, o velho, decidido a “tapar a boca do mundo”, cede à opinião alheia e ele e o filho passam a carregar o bicho às costas. “Talvez isto contente o mundo”, ele diz. Um grupo de rapazes dá gargalhadas ao ver a cena:

    –Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro…

    –Sou eu!, replicou o velho. Venho há uma hora fazendo o que não quero, mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que me manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já vi que morre doido quem procura contentar toda gente…

    Lembro dessa história toda vez que vejo notícias relacionadas à presidenta Dilma Rousseff. Parece impossível a Dilma agradar à imprensa. Se seu governo não toma nenhuma iniciativa, “está paralisado”. Se anuncia algum programa novo, “está visando 2014″. Se investe mais em educação do que em obras, “é má gestora”. Se investe mais em obras, “é negligente com a educação”. Se acata alguma decisão contrária do Congresso, “não tem pulso”. Se veta, “é autoritária”. Se Dilma não comenta a renúncia de Bento 16, é “pouco caso com o catolicismo”. Se vai ao Vaticano prestigiar o primeiro papa latino-americano, “é campanha”.

    Dilma é o velhinho da fábula. O menino é seu governo. A mídia são os que cruzam com ela pelo caminho. A mulinha somos nós. Como brasileira, não quero que Dilma me carregue às costas nem que me puxe pelo cabresto. Espero que a presidenta governe, simplesmente. Que não mude seus planos, como fez o velhinho, tentando agradar a todos. Que não se preocupe em “tapar a boca do mundo” e siga sua consciência. E que a moral da história seja: é preciso fazer o melhor possível sempre, porque as críticas virão do mesmo jeito.

  3. jose

    ZB, meus parabéns!!!

    Não só pelas postagens, mas por mostrar a todos os seguidores das mais diversas seitas e torcidas (políticas inclusive) que este espaço é democrático.

    Agora, seria de bom tom que os participantes informassem a origem de seus textos, por exemplo o Palhares acima deve ter esquecido que a fonte do texto que ele colou é a Cynara Menezes, funcionária do mino carta, daquela revista que só existe porque o governin federal a mantém…

    Ah, gostei do texto da “socialista morena” Cynara, principalmente de um trecho:

    “Espero que a presidenta governe, simplesmente. ”

    Se ela fizer só isto já será uma revolução!!!!

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