17:54De homem para homem

de Fernando Sabino

– Ateu, não; agnóstico
– Pois eu te dou quinhentas pratas se você me disser o que quer dizer essa palavra.
– Ora, para começar você não tem quinhentas pratas. Estou conversando a sério e você me vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, os padres outra. O ranço das sacristias me enoja. Tenho horror ao bafo clerical dos confessionários! O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.
– Só mesmo um doido te procuraria.
Mauro não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:
– Você vai ter de se curar para depois curar os outros.
– É isso mesmo – concordou o outro, sério – Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de “a minha libertação”.
– E o que eu chamo de “a sua imbecilização”.
– Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem. O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.

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