6:50Danuza e o Country Clube

por Célio Heitor Guimarães

Danuza Leão não é propriamente uma jornalista, mas sabe escrever e escreve bem. Hoje, assina uma coluna na edição dominical da Folha de S.Paulo, que volta e meia transforma em livro que figura o ano inteiro na lista dos mais vendidos. Além disso, traz na biografia o fato de haver sido casada com dois dos maiores jornalistas que este país já teve: Samuel Wainer e Antônio Maria. De Samuel, ganhou brilho intelectual e três filhos; de Maria, uma paixão lancinante e uma visão diferente da vida.

Na juventude, Danuza foi modelo e manequim de renome internacional; mais tarde, durante um tempo, virou promoter de eventos e arroz de festa. Hoje, segundo confessou em uma de suas crônicas, não gosta mais de multidões, não vai a shows, não vai a festas, não vai a restaurantes da moda e não viaja na alta estação, prefere ficar em casa lendo um livro.

Como colunista, Danuza é sincera e atrevida. Sabe dosar os seus escritos com fino humor e diz aquilo que precisa ser dito, mas que poucos têm coragem.

No domingo passado, saiu em defesa de Guilhermina Guinle – moça bonita, culta, atriz da Globo e descendente de uma das mais importantes famílias cariocas, fundadora, entre outras façanhas, do Hotel Copacabana Palace, que tentou ser sócia do Country Clube mas foi bombardeada com bolas pretas.

Danuza não entendeu porque uma mulher bonita, charmosa, rica e de sucesso, como Guilhermina, quer ser sócia do “clube mais gagá do Brasil”. Indaga: “Dá para entender que uma pessoa pague uma fortuna pelo título de um clube em que alguns poucos vão decidir se ela pode frequentá-lo? E é possível alguém querer frequentar um lugar em que é preciso pedir licença para entrar, e essa permissão ser dada – ou não – por um pequeno grupo cujo momento de glória é a reunião do clube, onde podem dar vazão às suas frustrações e se vingar da vida?”

Aí, com a exatidão de um cirurgião, lanceta esse tipo de entidade social, em pleno declínio nos dias de hoje. Vale a transcrição:

“O Country é um clube decadente, frequentado por pessoas – excetuando algumas poucas – tão decadentes quanto. Gente que não tem coragem de se expor, e passa a vida almoçando, jantando, casando, traindo, roubando, dando pequenos golpes dentro da própria família, protegida pelas paredes do clube; lá tudo pode e tudo é perdoado, desde que aconteça entre os sócios. É como se fosse um país dentro de outro país, com um presidente, seus ministros, suas fronteiras, suas leis. Não sei onde tem mais mofo, se nos sofás ou nas cabeças desses frequentadores, que adoram seus privilégios: as piscinas, as quadras de tênis, a liberdade de assinar as notas para pagar no fim do mês – quando pagam. Como sócios estão, em boa parte, falidos, podem comer o seu picadinho – ruim – lembrando dos velhos tempos. Bom mesmo vai ser no dia em que um deles escrever um livro contando as histórias do clube, que devem ser de arrepiar, mas vai ser difícil: quando você fica sócio, passa automaticamente a fazer parte de uma sociedade secreta, tipo uma máfia, onde a ormetà (voto de silêncio) é sagrada. Tudo pode – e põe tudo nisso –, desde que seja só entre eles”.

Grande Danuza Leão! A mana Nara e os ex-maridos Samuel e Maria a estão aplaudindo lá no Céu.

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2 ideias sobre “Danuza e o Country Clube

  1. Parreiras Rodrigues

    Entao o Country deve ser aquele clube ao qual se referiu Vinicius de Morais: Desconfio da idoneidade dum clube que me aceitar como socio!

  2. Fausto Thomaz

    Precisávamos de uma Danuza por aqui tmbm…a realidade de nossos “clubs” não é muito diferente, muito pelo contrário, continua sendo frequentado pela elite branca decadente de Curitiba.

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