por Nilson Monteiro
Estou de luto. Como devem estar todos que gostam de futebol e detestam a bestialidade disfarçada de alegria coletiva. A morte do menino Kevin Douglas Beltrán Espada, em Oruro, durante o jogo do Corinthians contra o San José, atingido por um sinalizador que teria sido disparado por um torcedor brasileiro, é algo a ser repensado não só com lamentações, mas com atitudes. Assim como o seria a morte de um corintiano que apareceu boiando no rio Tietê no dia de um jogo contra o Palmeiras ou o São Paulo, não importa. Tanto aquela, como outras, e esta de ontem em estádios e fora deles parecem nos causar um buraco na alma, preenchido com desculpas no dia seguinte. É preciso levar as investigações até o fim. Tão desumano quanto fazer um time brasileiro jogar a 3,7 mil metros de altitude, com atletas se arrastando em campo, à beira de desequilíbrio total de seus corpos, é permitir que armas mortais tenham passagem livre nos portões dos estádios, estimulando a sanha violenta contra suas vítimas, qualquer camisa que vistam ou time que torçam tanto uns quanto outros. Já que há constrangimentos e justificativas as mais esfarrapadas para proibir as torcidas organizadas (talvez uma medida que mereça um debate muito mais amplo e sério), é preciso proibir – já – as armas que têm ingresso livre nos estádios, quaisquer que sejam. Revólveres ou sinalizadores. É preciso discutir a fundo porque a violência coletiva (psicólogos já gastaram litros de saliva para explicá-la) explode nos estádios com tamanha facilidade, sem formas de coibi-la. E não sentir apenas nostalgia ou carinho por um tempo em que torcidas adversárias sentavam-se juntas, como vivenciei em fevereiro de 1955, quando o Corinthians empatou com o Palmeiras por 1×1, no Pacaembu, e foi Campeão do Centenário. Mas, tirar daquele tempo a lição de civilidade, cidadania e respeito que impede que, mesmo sendo fanático por um clube, como sou pelo Corinthians, eu seja compelido a agredir fisicamente outra pessoa que torce para outro clube. Este “acidente” não é mérito e nem exclusivo da torcida corintiana, mas da maioria absoluta das torcidas. Basta lembrar o assassinato de torcedores atleticanos de um cruzeirense nas ruas de Belo Horizonte. Os exemplos são inúmeros. A alegria toma de goleada para a tristeza há muito tempo em grande parte dos estádios, no Brasil, na Bolívia, na Inglaterra ou em qualquer outro país.
Bravo, Nilson. Há muitas explicações sociológicas pra essa violência, mas nada justifica a paralisia das autoridades e de todo mundo. É mesmo preciso enfrentar isso com seriedade.