7:01Os mortos-vivos de Brasília

por Célio Heitor Guimarães

As eleições (a primeira com explícito apoio do governo petista e a segunda com a omissão do dito cujo) do probo Renan Calheiros – denunciado pelo Ministério Público por peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso – para a presidência do Senado Federal e do ínclito Henrique Alves – já condenado por improbidade administrativa e investigado por enriquecimento ilícito e desvio de recursos públicos – para a presidência da Câmara dos Deputados fizeram-me lembrar de Fausto Wolff.

O gaúcho Fausto, falecido em 2008, foi – para quem não sabe – um dos maiores jornalistas deste país, sempre presente “em todas as barricadas, metafóricas ou não, desses anos em que o dever do brasileiro consciente (mesmo que às vezes meio cambaleante) era defender a inteligência nacional da burrice fardada, da japona, beca ou Armani, que o ameaçava”, na primorosa definição do seu conterrâneo Luís Fernando Veríssimo.

Pois o velho Wolff contou, em um escrito, a grande lição que recebeu de seu pai, após um boa sova (o pequeno Fausto havia roubado um gibi da banca de jornais). Disse-lhe o barbeiro de educação elementar: “Homem que é homem não rouba, não mente, não trai. Homem que faz isso pode até ter uma boa vida, mas será uma vida sem honra e viver sem honra é como estar morto. Traindo, mentindo e roubando, você poderá até enriquecer, mas todos saberão que você não passa de um mentiroso, de um ladrão e de um traidor”.

Fausto Wolff achava que talvez tenham sido as palavras de seu pai que o conduziram ao jornalismo, “a profissão mais bonita do mundo”, porque permite “denunciar a verdade por trás da realidade imposta pelos homens sem honra”.

Pois os jornalistas continuam exercendo a bela profissão de apontar os homens sem honra. Mas estes não estão se lixando com isso. Ao contrário, parecem orgulhar-se da desonra. Usam-na até como estandarte para conquistar a simpatia, o apoio e o voto de outros desonrados e continuam tendo boa vida.

A honra, mais do que nunca, é um elemento abstrato, cada vez mais raro no Brasil e praticamente extinto no cenário brasiliense!… Brasília hoje é território livre dos homens não apenas sem honra, mas também sem ética e sem moral. No Congresso Nacional emporcalhado, os eleitores de Calheiros e de Alves mais parecem aquelas hordas de zumbis das histórias em quadrinhos e dos seriados da televisão em moda na atualidade. Capitaneados pelo zumbi-mor Fernando Affonso Collor de Mello, perambulam pelos plenários de Brasília, sem rumo, sem consciência e sem honra, alimentando-se do dinheiro público e do sangue do povo brasileiro.

Imortais e insaciáveis, multiplicam-se com uma rapidez impressionante e contaminam quem estiver ao alcance de suas garras, enquanto nós, os pobres mortais que ainda cultuamos a honradez, mantemo-nos cada vez mais escondidos e silentes para não chamar a atenção da zumbizada e correr o risco de uma dentada fatal.

Quanta saudade de Mário Covas e do velho Ulysses!…

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